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monges casados

Em uma longa discussão já pude deixar clara minha posição sobre “monges” casados dentro do Buddhismo. Os interessados podem facilmente se reportar ao fórum em questão. É agora com satisfação que vejo o Dalai Lama se pronunciando a favor da mesma posição, numa postura que foi descrita como “His Holiness dropped the bomb on Mongolia’s monastic community today” (Sua Santidade jogou hoje uma bomba sobre a comunidade monástica da Mongólia). A “bomba” ocorreu na visita do Dalai Lama a Ulan Bator, capital da Mongólia, a sétima visita desde 1979, e, como sempre, amplamente criticada pela poderosa vizinha, a China. “O Dalai Lama não é meramente uma figura religiosa, mas um exilado político que durante um longo período de tempo esteve engajado em atividades separatistas ferindo a unidade nacional“, disse o primeiro ministro chinês, complementando: “A China firmemente se opõe a qualquer país que ofereça a ele um palco para se engajar nas atividades mencionadas acima“. Essa oposição chinesa, que implica em grandes sanções de cunho econômico, é, diga-se de passagem, o motivo porque Luiz Inácio (Lula) da Silva, não o recebeu no Palácio do Planalto.

A Mongólia tem fortes laços com o Buddhismo Tibetano, e particularmente com o Dalai Lama, uma vez que foi um rei mongol do século 16 que criou e conferiu o título de “Dalai Lama” (Oceano de Sabedoria) pela primeira vez. 90% da população mongol segue o Buddhismo vajrayana.

A “bomba”, entretanto, nada teve a ver com a política da China em relação ao Tibet, mas sim com o monasticismo mongol, o qual, desde a era do domínio comunista chinês, se viu grandemente “incentivado” a ter seus monges quebrando seus votos monásticos e se casando. O mesmo ocorreu no Buddhismo japonês, e em ambos os casos, forçar os monges a se casarem e tornarem-se leigos vestidos de monges foi uma forma escolhida para enfraquecer os monastérios e sua influência no país. Gandantegchenling foi o único monastério permitido a funcionar durante o período comunista, e seus “monges casados” se tornaram os professores da geração pós-independência. Desde então, monges terem suas namoradas, esposa e famílias se tornou algo comum, contrariando a totalidade das tradições buddhistas (com a exceção de algumas japonesas como menciono no fórum acima).

Convidado a opinar sobre regras gerais do monasticismo, o Dalai Lama comentou que, apesar de hoje haver mais monges na Mongólia do que antes, isso não tinha importância, pois era a pureza de suas vidas que realmente contava. E então soltou algo inesperado: “Se vocês têm namoradas ou esposas, ou não estão mantendo os preceitos de um monge de qualquer outra forma, vocês devem deixar de ser monges. Façam-no 100% ou não façam. Ponto. Parem completamente de usar as roupas de um monge e confundirem as pessoas, manchando a linhagem. Tentem ser bons buddhistas laicos e parem de fingir que são monges. Antes de 1990, havia uma desculpa. Para aqueles que escolheram uma vida monástica após 1990, não há desculpas“. Konchong, o monge tibetano americano que relata o discurso do Dalai Lama, disse que as pessoas ficaram tão impressionadas que 90% consideraram largar o manto monástico depois da reunião. Já em sua última visita ao Brasil, o Dalai Lama comentou adversamente a respeito de leigos buddhistas se vestindo com roupagens que davam a impressão de serem vestes monásticas.

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Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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