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Golpe na Thailândia

Antes tarde do que nunca, ontem, enquanto o primeiro-ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra, estava em Nova York em uma sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, o chefe do Exército, General Sonthi Boonyaratkalin, cercou com tanques a capital Bangkok e os prédios governamentais e declarou a formação de uma “Comissão da Reforma” e fim do Parlamento até novas eleições para o ano que vem. Algo desse tipo já vinha se delineando há muito, e passeatas contra o governo, ou mais especificamente contra o primeiro-ministro já ocorriam há anos por parte do povo. Thaksin Shinawatra é considerado unanimemente como um político extremamente corrupto, e escândalos de lavagem de dinheiro, ocultações de negociatas, manipulações de cargos políticos e pizza (qualquer semelhança com personagens verídicos no Brasil é mera coincidência…) foram comuns durante seu governo. Apesar dos protestos em geral, Thaksin recusava abdicar de seu cargo (afinal, como todos políticos dizem: “fui eleito pelo voto do povo e não vou sair” – claro que Thaksin falou essa frase em thailandês, mas brasileiros não têm dificuldade em traduzi-la).

Somente podemos esperar que a Thailândia volte a um estado de paz e menos corrupção, seguindo valores buddhistas e humanistas como sempre foi. O general Sonthi não é buddhista, mas muçulmano moderado e daí preparado, espera-se, para lidar com os profundos problemas que dividem a sociedade thailandesa no sul do país. Sonthi declarou fidelidade o rei Bhumipol e as notícias são de que tudo corre calmamente.

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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10 Resultados

  1. Dhanapala disse:

    Que bom, Nilton, que você não pensa que sou um agente infiltrado da Al-Qaeda! 😉 No mais, além do link que passei anteriomente do editor do Bangkok Post: ‘Thailand: Living in a culture that fosters coups’, talvez você possa apreciar saber a opinião de um monge theravada e do rei da Thailândia sobre o tema, em seu not all coups are created equal.

  2. Anonymous disse:

    Caro Ricardo, acho que estamos chegando a algumas convergências de pensamento.Também não tenho reparos de fundo ao que você escreveu na última mensagem. Quero apenas esclarecer que em nenhum momento imaginei que você estivesse defendendo “governos mergulhados no ódio”.Minha intenção foi chamar a atenção para algumas afirmações maniqueistas que atacando com razão as políticas equivocadas do chamado campo ocidental, acabam justificando e incentivando de alguma forma a manutenção de barbaridades do outro lado.Peço desculpas se as minhas palavras um pouco acaloradas deram essa idéia. Em nenhum momento quero que voçê imagine que estava me referindo a você.

    Por mim podemos passar para assuntos mais amenos. Desculpe também meu erro gramatical: onde está “não pode-se, leia-se “não se pode”.
    Um grande abraço meu amigo e até breve.
    nilton

  3. Dhanapala disse:

    Nilton, concordo com quase tudo que você disse acima. Aliás, quando você diz que “não pode-se dizer que eles estejam sózinhos” é exatamente meu ponto desde o início, que os eventos planetários estão interconectados e que as ações de um lado relacionam-me com as do outro. Quando você diz que as ditaduras tb possibilitam falcatruas, é também o que eu disse repetidamente.
    É claro que não vejo alguns pontos da mesma forma que você. Por exemplo, eu não conseguiria fazer uma afirmação tão categórica como a que você fez: “Até hoje a humanidade não teve essa experiência” (melhor que a democracia nos moldes atuais) e estou bem longe de pensar que a civilização ocidental atual é a melhor forma de governo e administração já surgida desde o surgimento da humanidade. Mas estou ciente de que a maioria pensa assim, pelo menos desde o advento do iluminismo. Agora, quando você diz: “só não concordo que a justa crítica a política estúpida e unilateral do senhor Bush seja justificativa para a defesa de países e regimes mergulhados no ódio àqueles que possuem outras convicções religiosas e políticas, e não saem por aí explodindo seus semelhantes”, não sei o que pensar. Ou você não está lendo o que escrevi (daí acreditar que defendi e justifiquei a “defesa de regimes mergulhados no ódio”) ou está conversando com alguma outra pessoa. Se for assim, pergunto-me porque eu deveria estar respondendo… 😉

  4. Anonymous disse:

    Caro amigo Ricardo:

    Quando você diz”as coisas parecem se encaminhar para eleições em breve” não tenho reparos a fazer. Pode se encaminhar para qualquer coisa . No Brasil em 1964 foi dado um golpe com intenções de restaurar a democracia que ,segundo os militares estava ameaçada pelo “perigo vermelho”. Prometeram eleições para breve. Quando viram que estavam perdendo o controle , implantaram o AI-5 , torturaram e mataram centenas de pessoas e endureceram o regime. Mais tarde a democracia foi estabelecida. Não há, portanto reparos quando você diz que ” a possibilidade permanece que isso exista” Até lá ,meu amigo vai ser um regime autoritário, indiscutivelmente.

    Quando falei que o estabelecimento de instituições democráticas é “lento e gradua1”, não entenda como um processo linear , há avanços e recuos. Não professei nenhuma tese de teoria evolucionista conforme sua afirmação. o fato de se eleger gente como Collor e Maluf não contamina minhas afirmações. Sempre haverá gente que comunga com os ideais dessas pessoas. A questão, Ricardo é também ideológica. Para ficar só no caso do Maluf ele representa uma parte da população que acha “que bandido bom é bandido morto” “que quem rouba mas faz”, tudo bem. Ela não é ingênua ou burra, conforme você diz. Ela vota conforme convicções arraigadas .Mas o que é mais importante é que essas pessoas não representam a maioria da população. Unanimidades não existem .Mas gostaria de lembrar que dos cinquenta e tantos deputados acusados de corrupção e roubos variados só cinco ou seis foram eleitos.Quando você afirma que” as regras que sustentam governos democráticos possibilitam falcatruas “, as ditaduras também possibilitam. Só que não se tem imprensa livre, ONgs, parlamentos que possam denunciar sem que sofram repressão. Como você vê com todas suas mazelas os governos sem ditadura tem suas vantagens, não acha?
    A afirmação ” eu pelo menos consigo pensar em algo que seria melhor que o regime democrático” não está no meu horizonte de entendimento. Até hoje a humanidade não teve essa experiência. Talvez você esteja falando em aperfeiçoamento da democracia, não? Nesse contexto é que você deve ler minha colocação “que não inventaram outro melhor”. Não é simplesmente uma frase feita.
    Outra colocação que não posso concordar”ainda assim nunca tivemos crises éticas, morais, ecoógicas, raciais, fome e guerras com atualmente. Como não ? A história da humanidade desmente tua afirmação . Ao longo da vida do ser humano na terra temos exemplos de massacres, populações dizimadas pela fome , doenças, intolerância religiosa, etc .Não é um privilégio dos séculos vinte , vinte um e nem mesmo do século dezenove. A Europa dos meados do século dezenove, início da revolução industrial, é a história da miséria, da fome da criminalidade ,conforme relatam diversos escritos de pensadores como Marx e Engels. O que dentre ,outras coisas acontece é que devido aos meios de comunicação sabe-se logo que estão morrendo centenas de pessoas de fome na África, que iraquianos enlouquecidos pelo fanatismo religioso, étnico e político explodem memmbros de suas populações, incluindo crianças , mulheres e velhos. Que o Talibã junto com outros regimes de países islâmicos ainda submetem suas mulheres a restrições sexuais , políticas , etc. E não me venham justificar tais atitudes invocando um relativismo cultural que só mascara atitudes inaceitáveis do ponto de vista da defesa dos direitos humanos.
    Finalmente quero comentar a questão da crise “árabe/Palestina/afegã/iraniana/iraquiana.
    Se é verdade que muito da crise atual seja responsabilidade dos países ocidentais liderados pela política estreita dessa figura lamentável que é o senhor Bush, não pode-se dizer que eles estejam sózinhos.

    De um lado a hegemonia antiga dos países ocidentais criando países artificiais na Ásia e Africa, principalmente, gerou conflitos étnicos e religiosos que até hoje perduram. Por outro lado diversos países influenciados pelo terror dos fundamentalistas islamicos têm contribuido com suas cotas para a instabilidade mundial. Mas isso é uma conversa longa, só não concordo que a justa crítica a política estúpida e unilateral do senhor Bush seja justificativa para a defesa de países e regimes mergulhados no ódio àqueles que possuem outras convicções religiosas e políticas, e não saem por aí explodindo seus semelhantes.

    Bem, está sendo muito bom trocar essas idéias contigo. Concordo que não seja o espaço ideal para continuarmos. Podemos trocar mensagens em outros sítios .
    grande abraço, nilton

  5. Dhanapala disse:

    Caro Nilton,

    Esclarecendo algumas coisas e levantando outras…
    Vc disse: “a instalação do golpe já é ditadura. Não é que vai se transformar”. Quando eu disse que deveríamos esperar para ver no que vai se transformar, não quis dizer que o golpe não foi ditadura. Mas não é verdade que todo golpe se transforma em ditadura, ou se preferir, se mantém como ditadura. No caso da Thailandia, as coisas parecem se encaminhar para eleições em breve, e mesmo que não fosse, ainda assim, a possibilidade permanece que isso exista. Nada parece ter mudado na Thailandia no sentido de parecer que uma ditadura, tal como aquelas dos países sulamericanos se instalará. Então, isso com relação ao que parece estar ocorrendo na Thailandia. Aliás, Thailand: Living in a culture that fosters coups, escrito pelo editor assistente do Bangkok Post, expressa bem o que tenho dito aqui.

    Agora, quando você diz: “Tua consideração de que se um governo se estabelece pelas regras democráticas se justifica que seja derrubado por militares me assusta”, é uma leitura absolutamente errônea do que eu disse, e me surpreendo que alguém possa pensar nisso. Do que jeito que vc escreve parece que eu estaria dizendo que todo governo que se elege democraticamente deve receber como recompensa um golpe militar! O que eu disse e repito é que as regras que sustentam governos “democráticos” possibilitam tantas falcatruas, corrupções, esquemas, roubos, etc., e possuem tantos mecanismos que dificultam os que estão no poder de se responsabilizarem por suas ações, que ‘isso’ faz com que golpes surjam como uma solução em governos “democráticos” corruptos, a depender das condições que expus na 1a mensagem. Que alguém possa ter lido que sou a favor de golpes e contra governos estabelecidos, só posso tomar como sentimentos pessoais interferindo numa leitura objetiva.

    Por outro lado, vc expressa nessa sua última mensagem uma série de idéias que mereceriam uma maior atenção, SE esse fosse um blog de análise política, o que não é e não pretendo prosseguir indefinidamente nessas colocações.

    Então, vc diz “O regime democrático tem imperfeições mas não inventaram outro melhor”, que é a frase comum repetida por todos os cantos. Mas, será que é mesmo? Não é posível algo melhor? Ou esse regime continua porque há interesses por trás dele?? Vc pensa que realmente é o povo que sustenta a “democracia” e sua criação?

    Eu pelo menos consigo pensar em algo que seria melhor que o regime democrático “tal como existe hoje” (que é uma frase minha que vc parece não estar lendo). Depois vc diz que: “O seu aperfeiçoamento nos países atrasados é lento e gradual” que é outra falácia que depende de noções de evolução que não vem ao caso comentar aqui. Se a política e os regimes de governo fossem algo que seguisse lenta e gradualmente à perfeição ou amelhoramento, cada governo seria necessariamente melhor que o anterior. Pensar que “O povo vai aprendendo com o exercício do voto” é um disparate na minha opinião. Basta lembrar que um presidente deposto foi nesse mês eleito deputado em Alagoas com o maior número de votos. O outro com maior votação em SP foi centro de malas de dinheiro, prisão e contas na Suiça há menos de um ano, e ilustres ministros, deputados e governadores dos últimos tempos têm uma passado menos que louvável. Acho inacreditável que vc não se lembre disso e ache que o povo realmente aprende com o tempo. O povo, e nele incluo a mim e a vc, é essencialmente burro (ou para usar palavra mais suaves, “influenciável e ingênuo”), governado por outras regras e não pela inteligência e outra virtudes. É por isso que devem haver outras regras diferentes daqueles usadas na atual concepção de democracia. Enfim, é um assunto longo, e não acho que seja simples. Mas os problemas que hoje temos no mundo estão estreitamente ligados aos regimes de governo que existem. Temos democracia e temos ditaduras, sendo que governos democráticos são a maioria. Ainda assim, nunca antes tivemos crises éticas, morais, ecológicas, raciais, fome e guerras como atualmente. Democracias e ditaduras têm problemas subjacentes às suas estruturas e é por isso que eu levanto que se isso não é observado (ou seja, se simplesmente continuamos subscrevendo ao moto ‘democracia é algo bom’ – sem tentativa de crítica), golpes são apenas o esperado em algumas circunstâncias. Ou alguém tem dúvida de que, por exemplo, toda a crise árabe/palestina/afegã/iraniana/iraquiana de hoje teve como gênese a ação dos governos democráticos da Europa e EUA?

  6. Anonymous disse:

    Caro Dhanapala, a instalação do golpe já é ditadura. Não é que vai se transformar. Obviamente os povos podem derrubar governos eleitos democraticamente. Os militares é que não podem substituir o povo nessa tarefa. Não pode haver coisa mais danosa do que uma ditadura. Tua consideração de que se um governo se estabelece pelas regras democráticas se justifica que seja derrubado por militares me assusta. Lutei contra isso toda minha juventude. O regime democrático tem imperfeições mais não inventaram outro melhor. O seu aperfeiçoamento nos países atrasados é lento e gradual . O povo vais aprendendo com o exercício do voto. Não há soluções fáceis. Veja o Brasil, temos agora um governo corrupto, eleito democraticamente, com apoio dos mais pobres. A tentação de derrubá-lo por outros meios deve atrair vários setores que não concordam com as coisa que o PT anda fazendo. Entretanto , os setores democráticos e comprometidos com a justiça social e tolerância política só têm um recurso: as urnas.
    Onde a democracia está consolidada( Estados Unidos e Europa)apesar de todas suas mazelas e imperfeições o cidadão tem a chance de mudar o que acha errado, tem liberdade de opinião , a imprensa é livre (ajuda até derrubar presidentes), homens e mulheres têm menos chance de sofrer discriminações odiosas como nos regimes autocráticos islâmicos. Tenha certeza, não existe coisa mais danosa do que ditadura ou qualquer outro nome que se queira dar ao regime que em”nome ” do povo fecha parlamentos e censura a imprensa .

    nilton

  7. Dhanapala disse:

    Agora com nomes é muito melhor, Nilton. Primeiramente, deve ficar claro que o weblog não foi uma apologia aos golpes militares, nem que isso é a melhor coisa que podia acontecer. Por outro lado, da mesma forma que não vejo com bons olhos as ditaduras militares também não vejo a democracia – tal como entendida e praticada hoje – como lá grandes coisas. Dentre as duas opções (haveria outras) é a menos pior. Prosseguindo… tal como praticada hoje, ela abre para ações por vezes mais danosas para o bem público que uma ditadura, monarquia ou outro regime, exatamente porque ao ‘público’ pouco resta a fazer do que esperar mais quatro anos pois foi ‘co-partícipe’ da eleição de alguém corrupto. Ora, não há como o ‘povo’ saber como seu voto será usado, o ‘povo’ é influenciado por outras considerações que não a inteligência e a ponderação sensata, o ‘povo’ não é adivinho nem tem bola de cristal, o ‘povo’ segue ‘mitos’ e ‘ídolos’ carismáticos acima de considerações factuais. Uma vez alguém esteja no poder, pelas regras ‘democráticas’ ele não sai de lá e se seu governo for danoso, inclusive levando muitas vidas à extinção, há vários mecanismos ‘políticos’ para que o governante e sua equipe ‘feliz’ continuem no poder, no cargo ou por baixo do pano (sabemos muito bem isso, não?). Golpes militares são apenas o outro lado da moeda da democracia tal como existe hoje e seu aparecimento ou não depende apenas de fatores como o nível de passividade do povo, de corrupção e malefício de um dado governo, da indignação popular geral e da indignação militar específica. Tal como praticada hoje, um governo corrupto e maléfico ‘pede’ pelo golpe, porque quase não há outra alternativa em certos casos. Enfim, se a Thailândia se transformará numa ditadura depois do golpe (algo que duvido) somente o tempo dirá. Os indícios apontam que não.

  8. Anonymous disse:

    Caro Dhanapala, sou um completo idiota no que se refere as ferramentas da internet. Peço desculpas por ter saído como anônimo.
    nilton Nascimento.

  9. Dhanapala disse:

    Caro “Anônimo”. Tenho como política não responder ou conversar com pessoas que não escrevem seus nomes e portanto não assumem suas idéias. Caso queira futuramente discutir algum dos weblogs e receber uma resposta, saiba que deve fazer-se conhecer.

  10. Anonymous disse:

    Por mais corrupto que um governo seja, não posso concordar que se fique contente por ter caído através de um golpe militar. Governos eleitos devem ser derrubados por eleições.
    No Brasil , Argentina, Bolívia, para ficar na América Latina os militares tomaram o poder e a gente viu no que deu. Mesmo que a maioria da população, por uma questão imediatista concorde com soluções de força, as pessoas comprometidas com a causa democrática não podem aceitar isso.

    Sou radicalmente contra o Governo Lula, que esta sendo acusado de corrupção e autoritarismo e tem a oposição de parte da população, entretanto se quiserem derrubá-lo através de qualquer expediente que não seja pelo voto ou impedimento pelo Congresso sou contra.