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Pão da Vida

A cozinha é um de meus lugares favoritos em casa. Não somente porque gosto de comer (o que eu gosto!), mas também porque gosto de cozinhar. Então nessa semana cruzei com uma receita fantástica de como fazer pão sem amassar. Não há trabalho, não há mãos grudentas de farinha, e o pão sai com uma fina camada crocante e o miolo macio, cheiroso e cheio daqueles buraquinhos que armazenam aquilo que você prefere passar. Tenho feito pão há anos, com graus variados de sucesso. Usualmente sai bem. Alguns fracassos também fazem parte do currículo. Mas certamente há uma mágica no fazer pão. É um material tão cru e básico aquele com o qual você lida. Farinha, água, sal, o fermento vivo e o tempo, e você não precisa muito mais que isso para ter diante de si a maravilhosa fonte de vida que Jesus escolheu para representar seu próprio corpo, mostrando a percepção aguda do papel do pão nas sociedades humanas. Das tortilhas das Américas aos rotis e chapatis indianos, passando pelo pumpernickel alemão, o pita árabe e o challah judeu, a força do pão atesta e confirma a significância do simbolismo.

E tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a erva, tmou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos dscípulos, e os discípulos à multidão. E comeram todos e saciaram-se, e levataram, dos pedaços que sobejaram, doze alcofas cheias. E os que comeram foram quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças” Mat. 14:19-21

Há alguma coisa de mágico no modo de fazê-lo. Os elementos são tão simples, mas complementados pela dedicação em amassar, pelo quase milagroso trabalho do fermento e pelo ação do fogo, multiplica-se diante de nós um resultado que dá poder aos nossos corpos e cujo sabor e aroma pode levantar nossas almas. Entretanto, o que seria do pão sem o processo de amassar, sem nosso próprio esforço?

Tanto quanto amassar o pão é a presença do esforço humano e da energia de nossas mãos, isso também simboliza tão bem o trabalho e suor que é a herança de todos os homens desde a Queda, quando Deus comandou: “Pelo suor do teu rosto, comerás o pão, até que te tornes à terra” (Gen 3:19). Em contato hoje com um amigo e professor buddhista americano, ele mencionou como alguns professores costumam diferenciar “sem pensamento” (“non-thinking”) de “não pensar” (“not-thinking”). Ao primeiro ele relacionava a ação espontânea da mente livre e sábia, capaz de agir de imediato segundo o momento presente; enquanto ao segundo uma expressão da ignorância.

Muitas pessoas não fazem seu próprio pão porque é trabalho demais. Talvez tenham que aprender a suar seus rostos como uma forma de contrapor a preguiça. Elas podem estar com demasiado “não pensar” e “não fazer”. Entretanto, em um outro nível, todo o amassar é um tipo de expressão do ego e da força de vontade. Fazer pão sem amassar é como a entrega total ao trabalho da própria natureza, sem ego. Ao invés de pensar e fazer, simplesmente deixar que as coisas sigam seu próprio curso. Ação e resultado espontâneos quando as condições simplesmente estão corretas.

₢ A foto acima é o resultado dessa experiência

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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5 Resultados

  1. Dhanapala disse:

    Olá Lucas! É esse mesmo o pão de que falei (que é diferente da receita que vc colocou, que é de amassar). Fiz uma modificações segundo minha preferência, mas a maravilha da coisa é que não importa o que se faça, sempre dá certo e o pão sai ótimo do forno. Sugiro que vc tente, sim. Ele é chamado “fool´s proof”, ou seja, não tem como errar.

  2. Lucas disse:

    Esse aí é o famoso “no-knead bread”? Está na minha lista de fazeres e amassares – oooops, este não amassa… – faz um tempinho.

    Pão é muito bão. Um tempão atrás escrevi um texto, uma carta, a pedido da minha vizinha psicanalista que me demandava a minha receita de pão. Achei ela tão bonitinha que resolvi colocar a serviço público, como patrimônio cultural.

    http://www.geocities.com/orchatasecunda/textos/pao.html

    Dá gosto de ver o pão saindo cheirando gostoso do forno. Dá pra sentir, literalmente, o teu suor ali.

    Abraços e boas fornadas,

    Lucas

  3. Anonymous disse:

    Olá!!!

    Falar em pão é sempre muito bom…seja qual pão for…srsrsr.Gosto de comprar pão e de ganhar pão. Fico muito feliz quando ganho pão de presente.Jamais esqueci das pessoas que me presentearam com um pão feito em casa. Pão lembra união, prosperidade, fraternidade e amizade. Pão é tudo de bom!!

    Josane

  4. Anonymous disse:

    hummmm botar a “mão na massa” é sempre muito gratificante, ainda que aconteçam acidentes de percurso
    ao longo do caminho.

    voltando aos pães, vc usa a tecnica
    ou macete da bolinha num copo de agua…eu uso duas,no crescimento da massa, e antes do forno qdo os pães já estão formados.

    mais tá, podemos trocar receitas, já fui expert em pães..desde o basicão, aquele caipira msm, assado num forno de barro com folha de bananeira…caipira e familia gde adoram desfrutar dessas coisas do ” tempo antigo”… até os mais elaborados com raizes e outras especiarias.

    boa idéia, acho que vou amassar alguns ” sem pensamento” …rs

    ana

  5. flavio disse:

    Esse pão parece muito bom, v. pode passar a receita tbém?