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ainda no labirinto

Quando David Wallace fala sobre a corrida de ratos na qual todos caímos quando deixamos a configuração default ocorrer, podemos lembrar que é exatamente a apreensão apropriada do dhamma que nos capacita escapar da aparente insignificância dos gestos e circunstâncias cotidianas, revelando o que há de importante na experiência.

Toda a idéia do texto é de que mesmo que pensemos que não cultuamos nada, nós acabamos cultuando, sim. Pode ser o dinheiro, a posição, a beleza, etc. Todos têm um ou mais deuses. Então esses ‘deuses’ são meio que a configuração automática, default, nossa. É para o que caímos quando não vivemos no presente, quando não estamos conscientes. Configuração default do computador, é a configuração que vem de fábrica, aquilo que automaticamente já nascemos assim, cultuando falsos deuses. É também o modo comum e ordinário de vivermos a vida.

O problema é que tais coisas nunca são suficientes. Sempre queremos mais, e sempre sentimos falta, pois realmente não são plenas. Daí Wallace falar: “O tipo realmente importante de liberdade envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e ser realmente capaz de se importar com outras pessoas e se sacrificar por elas, sempre e sempre, em míriades de formas não sexys, todos os dias.”

Se não escolhemos esse caminho da atenção e do viver o presente, ao invés de viver no passado ou no futuro, então o que nos resta é a inconsciência (o não viver consciente), e ficamos eternamente achando que perdemos alguma coisa. Projetamos essa insatisfação nisso e naquilo ~ uma relação perdida, uma situação vivida, uma profissao ou posição que já não temos, ~ mas é pura projeção de uma falta que sentimos porque sempre focamos no lugar errado, focamos só na falta, uma falta que não pode ser preenchida pelas coisas que geralmente buscamos. Por isso vivemos como ratos numa gaiola, correndo por labirintos sem saída.

Que tenha sido lembrado que importar-se com os outros é algo essencial para sair da força centrípeta do ego que nos puxa para baixo é corroborado pela pesquisa de que aqueles que meditam regularmente possuem uma cérebro mais parecido com a das mães. “Amor, compaixão e equanimidade são ‘habilidades’ que podem ser treinadas“.

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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2 Resultados

  1. Taí uma coisa difícil de valorizar: a contemplação/compreensão dos agregados… Acho que só com alguma faísca de Visão Correta é que somos capazes de vislumbrar a beleza e significado transcendente da essência do ensinamento do Buddha… Tanto quanto a necessidade urgente que temos dele…

  2. Vítor disse:

    Grande Tao, eis que somos apenas peças de seu jogo, flutuando com o destino, sem a minima chance de dizermos eu sou, despertando de acordo com sua vontade.