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Um chalé e um esquilo branco

Voces já viram um esquilo todo branco? Eu nunca. Esse aí é o meu vizinho. E na outra foto meu chalé. Na frente, um jardim com tufos de flores, um parquinho com gangorra e balanço para eventuais crianças, árvores floridas e uma goiabeira. A dona é muito simpática e está sempre pronta a cozinhar o que peço. Aproveito para aprender também, uma vez que a ‘cozinha’ fica aberta ao lado das mesas do salão de jantar, numa grande varanda aberta, com mesas e cadeiras de madeira avermelhada. Entre o famoso pad thai e variedades de red e green curries feitos com o cremoso leite de coco, hoje foi a vez de voltar ao espetinho de frango na brasa e arroz grudento (um modo de fazer um tipo de arroz daqui). Sempre que venho à Thailandia vejo algo novo que nunca tinha visto. Certa vez encontrei o chá verde gelado, bem antes deles serem introduzidos e popularizados no Brasil. Dessa vez a grande descoberta foram os pacotinhos de alga marinha frita. Alguém já viu isso nas lojas japonesas do Brasil? São deliciosas, torradinhas e servem como ótimo snack. O site deles é o http://www.taokaenoi.co.th/ para quem quiser visitar.
A única internet fica num café (literalmente, pois só se servem variedades de café, sem nada mais pra acompanhar) situado uns 200 metros daqui, e dirigido por um linda thailandesa que tem um rosto daquelas bonecas orientais, franjinha e cabelos longos, e cujo vocabulário em inglês se limita a ‘internet’ e ‘coffee’.
As aventuras nas florestas passaram longe de serem perigosas. Depois de ler em Down Under que na Austrália mora a taipan, a serpente mais venenosa do planeta, com um veneno 50 vezes mais potente do que a naja, sua mais próxima concorrente, até estava preparado para mais perigos. Bryson diz que se você for picado por ela, sua última frase será: “Ah! Será que essa é uma serp...”
Os franceses já foram embora, fazer trekking no norte, apesar de certa hesitaçao sobre se gostariam de novamente enfrentar sanguessugas num dos parques de lá. Parece que por lá elas também caem das árvores. Quando eu fui visitar o Bhikkhu Bodhi, no Sri Lanka, a floresta onde ele morava também tinha muitas dessas criaturas e por vezes caíam das árvores direto na sua nuca. Lá não tinha meias anti-vampiros…
Tivemos muita sorte de pegar os dois dias de passeio sem chuva, o que nos permitiu ver tantos animais. Depois disso, só chove por aqui. Desde as 18hs de ontem chove ininterruptamente, o que é ótimo quando você está em seu chalé, com leitura suficiente e bem confortável. Já para a turma que chegou ontem e hoje cedo saiu para passeio no parque, é de se esperar que vejam apenas os sanguessugas subindo por suas roupas encharcadas.
As alemãs partiram hoje rumo às praias do sul. Falando em praia, Bryson conta o seguinte sobre um tipo de águas-marinhas em Holloways Beach. 16 anos atrás, um sujeito foi se mostrar pros amigos, apesar dos avisos para não nadar. De repente gritos horrorosos surgiram do mar, daquilo que se diz que nenhuma outra dor é comparável. Chegado à praia, faixas de carne viva apareciam por onde os tentáculos o tocaram. Estatelado na areia, tremendo em choque, foi prontamente socorrido. O mais impressionante é que mesmo inconsciente e sedado com doses de morfina injetada pelos salva-vidas, ele ainda continuava gritando…
Monges não saem nadando por praias, ainda mais perigosas. Mas ainda assim podem ter uma ou duas coisas a ensinar a respeito. Ajahn Maha Boowa diz que “Pessoas sábias usam a vigilância e a sabedoria para avaliar as coisas, ponderando as consequencias até vê-las claramente. Então elas avançam, sem voltar para trás. Mesmo se isso significar a morte, elas estão prontas e preparadas para a morte. Afinal, todos no mundo devem morrer. Cada ser vivo no mundo terá que partir. Então, se devemos morrer, que morramos bem”. Então, vida e morte são assuntos delicados, precisamos aceitá-los com clareza e bravura, mas sempre com vigilância e sabedoria. Não parece que nosso amigo lá na Austrália estava muito conectado com esse ensinamento.

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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3 Resultados

  1. Dhanapala disse:

    Pois eh, fernando e fatima, ver as criaturinhas subindo, avidas pelas suas canelas em busca de seu sangue, eh uma “aventura” certamente diferente…!

  2. Anonymous disse:

    Este “passeio no parque” pareceu tão cheio de adrenalina quanto o relato de viagem a Australia! Abs. Fátima

  3. Anonymous disse:

    Ricardo,

    Lendo todos esses seus relatos, muito bons por sinal, fico imaginando como era dura a vida dos monges de floresta na Tailandia… Pensei que o maiores perigos naquela época fossem os tigres e as vezes elefantes, mas que nada…

    Grande abraço,

    Fernando