Buddha Gordo

Não, o Buddha não era gordo. Não, esfregar a barriga do Buddha gordo não traz sorte. Mas então, por que o Buddha frequentemente aparece como um sujeito gordo e sorridente? Quantas vezes já ouvimos e respondemos a essa pergunta? Difícil dizer, mas certamente é uma das mais frequentes.

O Buddha era um andarilho. Quando ainda jovem e membro da casta guerreira, praticava artes marciais e esportes. Mais tarde, quando abandonou o palácio, dedicou-se por anos a práticas ascéticas, as quais, certamente, não incluíam refeições gastronômicas. Após a iluminação e até sua morte, o Buddha caminhou incessantemente de vila em vila, cidade em cidade, montanha em montanha. A cada ano, durante nove meses, ele e seus discípulos caminhavam. Durante os três meses da estação das chuvas, eles permaneciam em um mesmo lugar, mas, mesmo assim, tinham que caminhar todos os dias para buscar seu alimento nos vilarejos.

Então, por que alguém teria a ideia de representá-lo como gordo? O que ocorre na realidade é que o famoso Buddha gordo não é uma representação do Buddha, por mais que revistas e a mídia superficial insistam em representá-lo assim. A origem dos “Buddhas Gordos” é obscura e há várias explicações. Na verdade, parece ter havido vários personagens gordos.

As primeiras representações chinesas de tal personagem provavelmente apareceram na dinastia Sung (960-1275). Um primeiro tipo é aquele representado sentado sobre um saco (contendo tesouros). Em sua mão esquerda, ele segura uma peça de ouro na forma de um barco ou, por vezes, um mala (rosário). Na mão direita, por vezes, segura um leque. Nesse caso, ele representa Mi Fo, talvez associado ao rei-guardião da prosperidade, Jambhuvala, que preside o setor norte do universo.

Uma outra figura parece ter tido como inspiração Chang Dingzi, um monge buddhista que viveu na China do décimo século. Ele sempre carregava um saco em suas costas e, por sua sabedoria e fama de feitos miraculosos, passou a ser considerado uma manifestação de Maitreya, o Buddha do futuro. Maitreya é tido como o bodhisattva da compaixão ilimitada. Na China, havia uma expressão idiomática para alguém muito paciente e tolerante, “aquele de estômago grande”. Talvez essa expressão acabou sendo tomada literalmente, surgindo o sujeito gordo carregando um saco nas costas. Enquanto tal, ele é assim uma representação de Maitreya (Mileh Fo em chinês ou Miroku Bosatsu em japonês).

Em uma outra representação, encontramos nosso obeso personagem com as mãos para o alto, como que segurando os céus para que não caiam. Este é Hotei, o deus chinês da prosperidade e da riqueza. Uma grande barriga sempre foi associada na Ásia à prosperidade. Alguns o associam à divindade indiana Indra, senhor dos céus. Hotei aparece sempre rindo, por isso muitos o chamam de “Buddha Sorridente”. Hotei é uma das sete divindades japonesas da sorte.

Há ainda uma outra representação, quando ele aparece rindo e cercado de crianças ou animais. Esse é o bodhisattva Kshitagarbha (Di Zang Wang Pu Sa em chinês e Jizo Bosatsu em japonês), protetor das crianças e para o qual muitos rezam quando perdem seus filhos.

Vindo da tradição tailandesa, temos ainda uma outra história. Nosso personagem era um discípulo do Buddha, jovem e atraente. As mulheres não o deixavam em paz, então ele desejou se tornar muito gordo para que elas o deixassem em paz e ele pudesse meditar tranquilamente. Uma outra versão o associa a Anathapindika, o rico comerciante que tanto apoiou o Buddha e a Sangha de monges. Como prosperidade e uma grande barriga também estão associadas na cultura indiana, o “Buddha Gordo” apareceu.

Enfim, todas essas versões se mesclam e se confundem de forma que nem mesmo os povos asiáticos sabem ao certo do que se trata. O que se poderia dizer dos ocidentais? E sempre há a possibilidade de alguma influência escandinava desconhecida e o “Buddha Gordo” não ser outro que o Papai Noel disfarçado (afinal, quem aguentaria passar a vida inteira nas terras geladas e com aquele casaco pesado?); ou, pelo contrário, que o Papai Noel seja na verdade Maitreya ou o “Buddha Gordo”, uma forma de trazer iluminação e felicidade também aos povos ocidentais. Afinal de contas, ambos são gordos, prósperos, sempre aparecem sorrindo, gostam de crianças, distribuem presentes e carregam um saco nas costas. Não é de se pensar?…

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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5 Resultados

  1. Anonymous disse:

    Parece-me que Maytreia deriva de maitri (amor)… assim, o mito de que um novo Buddha virá quando o buddhismo for esquecido é “apenas” a consideração de que o Amor poderá nos fazer reencontrar com a sagrada verdade da vida como ela é.

    Beto

  2. rosana disse:

    Muito esclarecedor, obrigada!!

    Gasshô
    Rosana.

  3. joao manuel disse:

    Na verdade este será o próximo Buda a reencarnar nesta esfera, ele é representado de várias maneiras, mas ele será o Buda Amoroso, será aquele que trará amor e compaixão ao nosso planeta quando mais precisarmos.

  4. mariana disse:

    “erdei” um pequeno bodinha.. n sei bem s é chines ou japones.. ele é bastante simples (n tem pernas) esta em cima duma almofada vermelha tem a mao direita para cima mas como s tivesse a dizer oi.. esta sorrindo d olhos fexados e n mao esq tem uma espécie d pau com duas fohas.. ele é bem pequenino e faz lembrar uma criança.. sabe m dizer algo á serca dele??