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Ah, eu adoro essas cortinas!

Email recebido de uma amiga. É possível gostar de algo antes de experimentá-lo? Da minha parte tenho convicção que sim. E dona Cacilda também. Que tal você também decidir de antemão ser feliz?

Dona Cacilda é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo dia às 08 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão.

E hoje ela se mudou para uma casa de repouso: o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução.

Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a atendente veio dizer que seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao elevador, dei uma descrição do seu minúsculo quartinho, inclusive das cortinas floridas que enfeitavam a janela.

Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.

– Ah, eu adoro essas cortinas…

– Dona Cacilda, a senhora ainda nem viu seu quarto… Espera um pouco…

– Isto não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada… Vai depender de como eu preparo minha expectativa.

E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todo dia quando acordo.

Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem….

Ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.

– Simples assim?

– Nem tanto; isto é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um certo ‘treino’ pelos anos a fora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em conseqüência, os sentimentos.

Calmamente ela continuou:

– Cada dia é um presente, e enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que depositou. Como vê, ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica.

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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4 Resultados

  1. Carlos disse:

    Quanta sabedoria essa Dona Cacilda! O que mais me marcou foi a frase:

    “A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que depositou.”

    Quantas trapalhadas posso evitar pela vida mantendo isso em mente.

    Obrigado!

    Carlos.

  2. Carlos disse:

    Este comentário foi removido pelo autor.

  3. Anonymous disse:

    Simplesmente LINDO!
    E Muito Obrigado!
    Fátima C

  4. A última frase soa quase como um mantra para mim…