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Beisebol e 9/11

No último weblog falei sobre os lançamentos de agosto. A palavra ‘lançamento’ de algum modo lembra beisebol. Faz muito tempo desde minha última partida de beisebol, mas duas coisas são fundamentais. O lançador e o receptor. Para lançar devemos ter uma mira certeira, apontando a importância de termos claros nossos objetivos. Nos assuntos religiosos isso não é diferente. “É útil lembrar que uma religião deve ser praticada para o benefício, liberdade e felicidade de todos os seres vivos. Isto é, os princípios religiosos deveriam ser usados positivamente a fim de melhorar a qualidade de vida de todos os seres. Ainda assim, hoje, a humanidade se corrompe e se desvia dos princípios religiosos básicos“, disse o Ven. Sri K. Dhammananda.
No entanto, além da mira certeira, o lançador precisa ter, em alguma medida, também um pouco de fé. Fé nele mesmo (em seu treinamento), fé em seu time, fé no receptor. Fé é importante no caminho. Porém, quando não checada e constantemente avaliada, ela pode muitas vezes transformar-se em fanatismo e intolerância. “As leis e preceitos religiosos deveriam capacitar as pessoas a levar uma vida significativa, e não devem ser usados para atá-las nem a práticas arcaicas, nem a rituais e crenças supersticiosos“, lembra o velho monge da Malásia.

Essa combinação corrompida de mira certeira e fé, que quando positivamente utilizada faz de um homem ou mulher um caminhante maduro da via espiritual, em sua versão espelhada nos dá aquilo que hoje o mundo se lembra como o fadítico 9/11, o onze de setembro. A combinação corrupta de intolerância e incapacidade para o diálogo pode ser vista, curiosamente, em ambos os jogadores principais dessa contenda: Bin Laden, uma mente fundamentalista ignorante e odiosa; e G.W. Bush, uma mente estreita, gananciosa e igualmente fundamentalista (agora em termos da direita cristã americana). Ambos, tão iguais, que se fossem trocados em suas funções talvez o mundo nem mesmo perceberia e tudo correria da mesma forma que ocorreu.

Em sua reflexão sobre o 9/11, Ven. Dhammananda nos lembra o verso do Buddha, em que diz que o ódio nunca é vencido pelo ódio. Ele nos lembra que “isto levará a mais discriminações, hostilidades e na criação de mais forças do mal. Devemos nos lembrar que a religião nada tem a ver com qualquer ‘guerra santa’. Tais pessoas somente poluem o nome da religião“.

Quando nos perguntamos por que não há paz, devemos nos lembrar do velho beisebol, lembrar que devemos lançar nossa bola na direção certa, e ter a fé de que ela será recebida de mente e mãos abertas, pois a fé deveria nos “trazer um frescor, elevar a energia do coração e nos dar uma nova perspectiva“, como diz Ven. Sucitto.

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

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1 Resultado

  1. Jorge disse:

    Ainda falando de beisebol, parece que uma grande parte não se preocupa em fazer pontos ou “meramente” vencer… antes disso desejam acertar bem no nariz do rebatedor!