• Sem categoria

Zens

Como vários que lêem estas folhas devem saber, uma vez por ano trazemos professores do zen coreano para Belo Horizonte, MG. Nesse ano estaremos organizando também suas visitas de ensino a São Paulo. Em “Céu Azul Verde Mar” indico brevemente algumas similitudes e diferenças em relação ao Buddhismo Theravada.

Há vários tipos de Zen. Basicamente o chinês, o japonês, o coreano e o vietnamita. Eles não se distinguem apenas por seu país de origem, mas também são diferentes entre si em termos de prática, disciplinas, código monástico e estudo. Algo que sempre menciono e que faz parte da curiosa história do zen no Brasil, é o fato de que aqueles que se iniciaram no zen pela leitura de livros, desde há décadas, empolgavam-se com a leitura a respeito de koans, das estórias e frases enigmáticas de peculiares mestres do zen e, ainda hoje, não se cansam de citar a cada situação, alguns até para provar o quão profundo é seu entendimento do zen, este ou aquele koan.

Até algum tempo atrás, a arrasadora maioria dos livros zen disponíveis ao público brasileiro continham tais estórias e koans como seu foco principal, mas, curiosamente, quando o indivíduo, depois de horas e meses de leitura, decidia entusiasmado, colocar finalmente o ensinamento em prática, ele descobria que todos os centros zen no Brasil eram da linhagem Soto do Buddhismo japonês, uma linhagem onde justamente o ensino e prática do koan são relegados a um segundo plano e raramente faz seu uso da forma como o leitor de tais livros acostumou-se a ler. Explico mais sobre isso em “A Que Escola Pertenço?” Nada de mestres apresentando o koan, nenhuma meditação intensa na heróica tentativa de resolver o enigma tão fugidio, nada de entrevistas pessoais com o mestre baseados nos koans, nada de satoris brotando de sua intuitiva compreensão. Depois de longos anos o neófito finalmente percebia, e muitos nunca chegaram a percebê-lo, que a tradição prática dos koans vinha da linhagem conhecida no Japão como Rinzai e não da Soto. A incongruência tornava-se então patente. Para praticar o zen no Brasil, frequentava-se um centro Soto; mas toda a literatura de suporte era Rinzai.

O Zen Coreano, entretanto, pertence à mesma linhagem do Rinzai japonês. Quase que totalmente desconhecido ainda no Brasil, essa é uma oportunidade única de encontrar uma prática zen que corresponde ao que as pessoas encontram na maioria dos livros de koans.

Amanhã prosseguirei um pouco mais com a questão do koan no Buddhismo Coreano.

© foto de Tânia Lohmann

dhanapala

Este é o blog pessoal de Ricardo Sasaki, psicoterapeuta, palestrante e professor autorizado na tradição buddhista theravada (Upasaka Dhanapala) e mahayana (Ryuyo Sensei), tradutor, autor e editor de vários livros, com um grande interesse na promoção e desenvolvimento de meios hábeis que colaborem na diminuição real do sofrimento dos seres, principalmente aqueles inspirados nos ensinamentos do Buddha. Dirige o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda e escreve no blog Folhas no Caminho. É também um dos professores do Numi - Núcleo de Mindfulness para o qual escreve regularmente. Para perguntas sobre o buddhismo, estudos em grupo e sugestões para esta coluna, pode ser contactado aqui: biolinky.co/ricardosasaki

Você pode gostar...