O tema da violência nos traz a uma reflexão importante sobre a doutrina do kamma no buddhismo. Ao contrário do que muitos pensam, mesmo buddhistas informados, o kamma (skr.karma) não tem a ver apenas com nossas ações,mas também com nossas omissões. Esse cuidado, ou falta dele, em lidar com os pobres, negros e velhos por parte das administrações políticas, além de revelar as sérias questões raciais presentes em vários países, aponta para um caso de kamma intencional, sim, tão grave quanto a agressiva política de invasão e destruição no Afeganistão, Síria, Iraque e outros, onde soldados não pensam duas vezes antes de atirarem em mulheres e crianças que possam ser “potencialmente” perigos para eles.
Possuir recursos torna-se aqui uma faca de dois gumes. Possui-los nos abre possibilidades de fazer o bem, gerando mais kusalakamma, além de beneficiar os seres ao nosso redor. Entretanto, possui-los e não usá-los, ou usá-los inapropriadamente, é pior do que se não os tivéssemos em primeiro lugar. A revolta e indignação com que o mundo contempla as tragédias das guerras provêm em grande parte daí: países com tantos recursos como os EUA desperdiçam seus recursos, de um lado em ações cujas intenções são mais que suspeitas, como nas intervenções no Oriente Médio, e se omitem em usá-los quando se trata de salvar vidas consideradas, quem sabe, ‘dispensáveis’.
Cada vez mais me impressionam os paralelos que podemos estabelecer entre diferentes doutrinas. A impressão que tenho é de que quem caminha para a luz, independente do método, fala a mesma linguagem. Ao ler este texto,não pude deixar de lembrar recomendações espíritas sobre a responsabilidade da prática da caridade (compreendida em sua mais ampla significação).
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