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Dever

A palavra mais conhecida no buddhismo é Dhamma ou, em sua forma sânscrita, Dharma. Mesmo quem acaba de chegar no buddhismo logo apreende o que a palavra significa e, segundo o entendimento geral, fica logo claro que Dhamma tem um duplo sentido, o de ser o conjunto dos ensinamentos do Buddha e, por extensão, a verdade em si. Em outras palavras, Dhamma é a realidade – independente dos nomes que se dão a ela -, e, por se acreditar que o Buddha ensinou essa realidade, seu ensinamento também é chamado de Dhamma. Há ainda um outro sentido, mais técnico e específico para a palavra, mas não cabe aqui explorar esse aspecto.

Mas o que é interessante notar, e algo que é virtualmente ignorado pelos buddhistas atuais, é um outro sentido, mais arcaico da palavra Dhamma, e existente já numa época pré-buddhista. Nos tempos atuais, Ajahn Buddhadasa sublinhou novamente esse uso importantíssimo da palavra Dhamma. Em suas palavras: “Dhamma significa ‘dever’. Este é o significado que tem sido utilizado em seu local original desde tempos antigos. Quando as pessoas compreenderam qual era o dever do homem, elas utilizaram esta palavra em particular – dhamma – para tal dever; a palavra tem sido continuamente usada até os dias atuais e foi adotada na língua tailandesa“.

Isso é algo muito importante de ser enfatizado. Dhamma não é apenas o ensinamento do Buddha, algo ‘distante’ que pode ser estudado, analisado, consumido. Nem mesmo é a ‘prática’ recomendada pelo Buddha. Claro, é também o estudo e a prática; mas se estes forem realmente bem entendidos, nasce natural e necessariamente, um dever. É nesse sentido que traduzo os fatores do óctuplo caminho não com a palavra comumente usada, ‘correta’ (compreensão correta, intenção correta, linguagem correta, etc.), mas como ‘completo’, um outro sentido para a palavra original ‘samma’. No óctuplo caminho não se trata apenas de fazer algo como está prescrito, como algo somente oposto ao incorreto, mas de avaliar a completude ou perfeição da ação, compreender a ação necessária e a omissão que não se pode ter, enfim, compreender qual é nosso dever diante de cada situação. E assim fazendo, aí sim, estaremos realmente praticando o Dhamma.

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