Se você ama alguém e começa a agir de forma gananciosa, então as coisas complicam-se. Assim sendo, o objeto do seu amor causa sofrimento em você. Por exemplo, se ao amar os seus filhos você se apega a eles, então você realmente não os ama mais, pois você não está junto deles pelo que eles são. Você concebe todos os tipos de idéias sobre o que eles deveriam ser e sobre aquilo que você gostaria em que eles se transformassem. Você deseja que eles obedeçam a você, que sejam bons e que obtenham a aprovação nos exames escolares.
Com esta atitude, você não ama realmente os seus filhos, pois se eles não satisfizerem os seus desejos, você se sentirá colérico, frustrado e averso em relação a eles. Desta forma, o apego aos nossos filhos nos impede de amá-los.
Quando abandonamos o apego, descobrimos que nossa maneira natural de nos relacionarmos com os outros indivíduos é amando-os. Tomamos conhecimento de que somos capazes de permitir que nossos filhos sejam aquilo que eles realmente são, ao invés de sermos dominados por idéias fixas sobre aquilo que gostaríamos que eles fossem.
Quando converso com pais, eles afirmam o quanto existe de sofrimento em lidar com os seus filhos devido à presença de inúmeros desejos. Quando desejamos que nossos filhos comportem-se de uma determinada maneira e não de uma outra, criamos esta angústia e este sofrimento em nossas mentes.
No entanto, quanto mais abandonamos os desejos, mais descobrimos uma habilidade incrível para sermos sensíveis e conscientes em relação ao modo como nossos filhos são. Assim, é claro que esta abertura permite-lhes responder adequadamente ao invés de somente reagir ao nosso apego. Como sabemos todos, a maioria dos nossos filhos está apenas reagindo às nossas palavras: “Desejo que você seja desta maneira“.
A mente vazia – a mente pura – não é um vazio no qual você nada sente e nem se importa com coisa alguma. É o esplendor da mente. É um brilho verdadeiramente sensível e receptível.
É a habilidade de aceitar a vida tal como ela é. Quando aceitamos a vida tal como ela é, podemos responder apropriadamente ao modo como nós a experimentamos, ao invés de somente reagir ao medo e à aversão.
Eis aqui a segunda parte da entrevista ‘Amor sem Apego’ de Ajahn Sumedho, na tradução de Fernando D.: