Muito da confusão vem também da compreensão do próprio conceito envolvendo a política. ‘Ser político’ não significa necessariamente tomar partidos. Talvez, até pelo contrário, significa não tomá-los, mas, antes, manter a mente aberta e crítica diante das situações do mundo ao nosso redor, distante da influência de partidos e idéias partidas que poderiam nos fazer crer que esse ou aquele é melhor. Que o mundo da política e dos políticos é corrupto, nisso não há dúvida. ‘Nada há de novo sob o sol’, já diziam nossos antigos, e corrupções, esquemas, propinas e favores fazem parte do mundo político desde há muito e estão presentes em todos os países de todos os continentes. Ser político, ou ainda, pensar politicamente, entretanto, não significa se envolver com a mesma prática pouco honesta, mas, pelo contrário, apontá-la criticamente, uma atitude que o próprio Buddha não deixou de fazer. Não podemos esperar que os políticos do mundo sejam perfeitos e puros – não é da natureza do mundo ser assim -, mas podemos esperar e ajudar para que a vergonha seja uma qualidade que todos os que se engajam na política se orgulhem de ter.
A vergonha e o medo da censura dos sábios são os dois ‘pilares do mundo’, segundo o Buddha. Que os políticos armem seus ‘esquemas’ é algo esperado, mas que, sendo descobertos e com uma avalanche de provas igualada às melhores que podem ocorrer dos Andes aos Alpes, se tente justificá-las, esconder-se, desviar a atenção e mesmo orgulhar-se, isso sim é deprimente. Em alguns países, após um grande escândalo, alguns políticos já se suicidaram ou demitiram-se imediatamente. Isso mostra que pelo menos havia ainda algo de vergonha e honradez. É um embaraço ficar exposto diante da opinião pública; é uma vergonha para a família ter alguém desse tipo compartilhando seu sangue. Hoje, entretanto, familiares se unem em torno do indivíduo. Seria um caso de ‘família que se corrompe unida, permanece unida’?
Saindo do campo da corrupção para o da ignorância violenta, mas mantendo-se ainda no tema da falta de vergonha, não se pode deixar de elogiar o excelente blog Baghdad Burning (“Baghdad em Chamas”), indicado ao prêmio Samuel Johnson da BBC de Londres. Escrito por uma iraquiana anônima, ele conta, dia a dia, o sofrimento e o nonsense da agressão americana no Iraque. A autora, que se define como “Sou mulher, iraquiana e tenho 24 anos. Sobrevivi à guerra. Isso é tudo o que devem saber. É a única coisa que importa hoje em dia“, é um desses exemplos de que um posicionamento corajoso e crítico diante do absurdo ao nosso redor é melhor e mais belo, ainda que triste, que o amorfismo apolítico dos que se imaginam buddhistas e meditantes.
Anallu, vc tem absoluta razão ao dizer que a ‘interlocução autor/leitor é algo que funciona para ambos os lados’. Escrever implica em ser lido, duas faces de uma mesma moeda, significando que não há autor sem leitores (mesmo que apenas um), nem, obviamente, leitor sem autor; e quando apenas um lado é o ‘agente’ a relação torna-se deficiente, ou seja quando o autor escreve para um leitor inexistente ou ‘afásico’. Em outras palavras, que o autor saiba que está sendo lido e que o leitor compartilhe seus pensamentos e impressões com o autor que lê é um exemplo de relação intelectual sadia, além de um estímulo para o autor (que sabe que pelo menos uma pessoa o lê). Obrigado!
Olá Ricardo,
Já que a minha observação gerou uma reflexão, cá estou novamente.
Gosto muito dessa possibilidade de interlocução autor/leitor, e sinto que ela funciona para ambos os lados,… até para o leitor silencioso.
Já estive aqui várias vezes e tentei postar, mas não consegui… deu zebra…rsrs
Já postei bastante, em alguns blogs
que gosto, principalemnte politicos, e não oficiais ( tipo Noblat). Aprendi e cresci muito com essa pratica.
Enfim sempre que me sentir “provocada” darei retorno.
abs
Anallu = gatamansa – era meu pseudonimo heheheh
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