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“eu creio em Deus”

Se as pessoas fossem comentar todas as frases emitidas por nosso presidente, certamente não fariam outra coisa senão isso. Nesse sentido, vivemos uma situação semelhante aos americanos com Bush, uma fonte inesgotável inspirando comentários, cartoons e outras palavras segundo o humor de cada um. Na última terça-feira, por exemplo, tivemos o prazer de ler uma dessas frases inspiradas. Perguntado sobre a situação do ministro Palocci e as inúmeras denúncias de corrupção y otras cositas más o sr. Lula disse o seguinte: “Hoje eu não estou bem, a situação está mal, mas, primeiro de tudo, eu creio em Deus”.

Tal como um “bombril”, é interessante ver como “Deus” é jogado e usado em qualquer situação mesmo aquelas em que nada têm a ver. O que ele teria pensado ao dizer isso? Que se ele “crer em Deus”, as denúncias vão sumir, a corrupção vai acabar, o povo vai esquecer? “Deus” teria então o poder de ser um ilusionista, criando mundos imaginários para todos aqueles que nele não acreditam? Isso supondo, é claro, que todos os que denunciam a corrupção governamental não crêem em Deus… Ou desejaria dizer que se você crer em Deus vocês se torna cego à corrupção que está ao seu redor? Esse é um dos perigos das religiões teístas quando atingem aquele patamar “popular”, completamente distante de suas alturas mais filosóficas e metafísicas. “Deus” serve para tudo: para encobrir nossas ações prejudiciais e corruptas, castigar nossos inimigos, demonstrar o quanto somos ‘bons’ meninos e rezamos todos os dias. Afinal, qual outra razão se teria para dizer que se “crê em Deus” em meio a uma explicação pública sobre a corrupção no alto escalão do governo? Não seria justamente para mostrar ao ‘povo’ o quanto se é bom e “temente a Deus” e assim criar a dúvida na cabeça das pessoas? ‘Ele crê em Deus! Portanto, não é culpado de nada”.

É por isso que o Buddhismo, e mais especificamente o Buddhismo Theravada, coloca tanta ênfase na ação e na responsabilidade individual. Se o governo “está mal”, as razões para isso devem ser procuradas nas ações e omissões de todos aqueles envolvidos. Crer ou não em Deus nada fará para resolver a situação, a menos que isso servisse de inspiração para agir de forma correta ao invés de tapar o sol com a peneira. Mas claramente não é esse o caso. Quando “Deus” passa a ser moeda de barganha na propaganda política sabemos que as coisas estão mal na religiosidade de um povo, para não dizer na política. Aliás, não é isso exatamente o que acontece nas terras do tio Sam, onde “crer em Deus” virou a grande ‘commodity’ do sr. Bush?

Uma outra ‘pérola’ foi lançada no mesmo dia. Indagado sobre as críticas que recebe, nosso presidente declarou o seguinte: “Agora sou presidente e não posso responder a cada baixo nível que fazem contra mim”. Como deveríamos entender isso? Que se não fosse presidente ele poderia e responderia no baixo nível? ‘Agora que sou presidente, não farei o que como cidadão comum eu faria?’ Ora, ora…

Marcações:

2 comentários em ““eu creio em Deus””

  1. Olá Ricardo,

    O que gosto e admiro em ti é sua capacidade de transitar com lucidez e bom senso por outras areas tb, seja a politica, psi, filosofia.. etc.. etc…
    Se temos mais esse instrumento ( Budismo) pq não fazer uma leitura da cultura usando-o. Vejo muitos budistas se dizendo ” apolitico
    Endosso seus argumentos.
    Gassho
    Anallu

  2. Deus lhe pague pelas suas palavras de sabedoria!
    Graças a Deus teremos eleições esse ano e se Deus quiser o povo saberá avaliar.

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