“Ou seja, uma coletividade monástica pode ser útil de um ponto de vista econômico no trabalho de iluminação, mas a presença de outros nesse ambiente não influencia a aquisição da iluminação em si. Essa idéia se contrapõe à importância que os mahayanistas freqüentemente atribuem a suas congregações, cuja finalidade é prover os membros individuais com encorajamento e apoio mútuo ao longo de suas jornadas espirituais“.
Aqui o autor simplesmente ignora as exortações presentes no Theravada e provenientes do Buddha quanto à importância dos amigos espirituais no caminho. É completamente falsa a afirmação de que para o Theravada “a presença de outras pessoas num ambiente não influencia a aquisição da iluminação“. Do contrário, não haveria tantas orientações quanto ao convívio humano. O discípulo Ananda, nas escrituras Theravada, aparece sendo censurado pelo Buddha ao dizer que a amizade consiste de metade do caminho espiritual. Não a metade, disse o Buddha, mas todo o caminho espiritual. Sendo assim, não há qualquer contraposição à posição mahayana.
Ele prossegue: “Mais uma vez, pode-se observar que a alta estima que o Mahayana tem pela sangha atende aos gostos ocidentais e confucionistas, já que as religiões do ocidente freqüentemente são praticadas em grupo, e o coletivismo do Confucionismo não entra em conflito com essa postura. Mais uma vez o sincretismo parece ser uma prioridade para os mahayanistas, e uma situação a ser evitada para os theravadins“.
Esse tipo de afirmação geral a respeito de religiões é perigoso porque freqüentemente falso. O autor usa a palavra sangha aqui para a designação de grupos de prática ou de comunidade espiritual. Não há no Mahayana uma ênfase que seja maior que no Theravada. Igualmente o autor parece desconhecer os processos de sincretismo do Theravada nos países em que se instalou.
Uma outra das “diferenças menores” é que “Aumentando a lista de disparidades secundárias – mas ainda assim significativas – em comparação às duas cisões iniciais apresentadas está a inconsistência entre escolas a respeito de quanto tempo é preciso esperar após conhecer o Dharma até que haja a possibilidade de Iluminação; enquanto os theravadins aceitam a resposta ortodoxa e canônica de “eons”, que eles, como muitos fundamentalistas, interpretam como significando pelo menos várias vidas…“
Desconheço quem seriam os “fundamentalistas” a que o autor se refere, mas é uma evidente falsidade dizer que o Theravada propõe éons para a iluminação. Pelo contrário, o Dhamma é para ser “visto aqui e agora” (sandithiko) e “independente do tempo” (akaliko). Basta uma breve leitura dos suttas do Theravada para notar que o Buddha jamais disse que a iluminação levaria éons.
“… é típico das escolas Mahayana optar ou por interpretar “eons” metaforicamente para descrever um longo período na vida presente do praticante ou alternativamente por descartar a necessidade de espera por completo e declarar que a possibilidade de Iluminação é imediata. (Esta última interpretação de iluminação “súbita” é, claro, uma crença exclusiva do Zen, e portanto não deve ser considerada representativa da tradição Mahayana). Com tamanha gama de possibilidades, não deve surpreender o observador perceber que cada variedade de buscador tem uma disciplina budista correspondente, e que o modus vivendi agitado dos ocidentais é mais fácil de ajustar à prática Mahayana…“.
Ou seja, outra daquelas conclusões sobre bananas, maças e portanto abacaxis.
Nota: os weblogs com esse tema estão comentando o artigo:
Mahayana vs. Theravada: a Multiform Comparison
com tradução aqui: