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Diz então: “Embora tanto o Theravada quanto o Mahayana tenham uma tendência a se identificar mais com correntes de esquerda do que outras crenças, o tema divisivo do aborto dividiu essas duas correntes do Dharma da mesma forma que fez com o público norte-americano em geral“.
Aqui fiquei perdido. A quê o autor estaria se referindo? Ele explica: “Este assunto específico de debate é um exemplo de como ambos, ainda que considerados altamente correlatos no que se refere à perspectiva política, ainda assim podem divergir dramaticamente em linhas de ortodoxia-e-reforma. Com a recusa do lado Theravada em reconhecer o direito de escolha da mulher em quaisquer circunstâncias…“
Essa frase é típica de pensadores mais preocupados em defender seus pré-conceitos ao invés de “pensar” sobre o tema em questão. Quando alguém escreve “se recusa a reconhecer o direito da mulher” imediatamente cria na mente do leitor uma imagem negativa. Mas como o Theravada (ou qualquer religião) pode ir contra os *direitos* das mulheres? Que absurdo! É isso que imediatamente é criado na mente do leitor. Mas da mesma forma que o autor é ingênuo ao tratar das opções políticas “correlatas” dos buddhistas, ele também é ingênuo e simplista ao tratar do tema do aborto, um assunto extremamente complexo. Evidentemente que (talvez propositadamente) a formulação da frase encobre e esconde completamente as considerações sobre o direito do feto (um ser vivo segundo o Buddhismo) em viver, algo aceito por Theravada quanto por Mahayana igualmente.
“…e a adoção pelo Mahayana de uma posição mais atenuada e modificada pelo contexto político e social, reconhecendo o direito à vida ao mesmo tempo que propõe atenuantes, fica aparente que a variedade promulga um sistema de valores que corresponde mais de perto ao da população da era moderna“.
Seria interessante saber a que posições seriam essas que o autor atribui ao Mahayana em geral e em que medida aqueles que as propõem são reconhecidos pelo Mahayana em si. E em que se apóia para dizer que no Theravada isso é diferente. Bem tipicamente, depois de lançar uma frase no ar, sem prova ou dados, o autor chega a mais uma de suas *conclusões*: “Portanto, a mentalidade Mahayana se afasta mais uma vez do tradicionalismo para favorecer a camaradagem, que sem dúvida se propaga a sensibilidade à opinião pública“. O que é isso? Ele está dizendo que o Mahayana apóia o aborto e isso para “favorecer a camaradagem”?!
Até agora o autor não mostrou um único ponto de tradicionalismo no Theravada, apesar de que de tanto repetir a palavra qualquer leitor desavisado e ingênuo desse artigo por agora já estará convencido que o Theravada é um tradicionalismo retrógrado e o Mahayana a imagem da perfeita religião para o Ocidente.
[continua]