Como disse na folha anterior, enganos a respeito do Buddhismo não faltam, mesmo vindos de buddhistas. Um outro exemplo disso, vindo de outra fonte, é a série que tem sido desenvolvida aqui sob o tema “Mahayana vs. Theravada”, onde são analisadas as explicações de duas pessoas que se colocam como buddhistas. Na folha anterior dessa série em particular é levantado o tema da reeencarnação como sendo algo pertencente ao Buddhismo. A partir daí, desenvolve-se conclusões surprendentes.
Mas por que teria sido dito que a “reencarnação é algo natural no budismo” nesse contexto? Parece uma afirmação fora de sentido. Compreenderemos isso na próxima frase: “Digamos que os bodhisatvas e arhats que foram discípulos do buda renasceram em meios mahayana… o mahayana é criticado por ter sutras que não datam da época do buda. Ora, nada mais natural que a tradicao ter continuado, e a medida que os bodhisatvas trilhavam a senda, eles também ensinavam o que aprenderam com seu mestre“.
Está explicado, então! Bodhisattvas e arahats, discípulos diretos do Buddha, se reencarnam em meios mahayana e essa é a origem dos novos sutras adotados por esta tradição. Não sei de qual mahayana isso está sendo falado, mas do ponto de vista do theravada e de pelo menos certas correntes do mahayana, arahants não renascem! Essa é, aliás, a definição clássica de arahant. Então não será de arahants reencarnados que o mahayana terá surgido. Como há vários tipos de bodhisattvas, não necessariamente exemplos de sabedoria completa (senão seriam Buddhas), então quem sabe seja essa a origem do Mahayana?… pelo menos segundo a autora da sentença.
A explicação continua: “Então, enquando o theravada ficou com as regras morais, alguns bons sutras (não nego sua qualidade)… mas ficou parado no tempo… e os sutras ‘novos’ do mahayana são simplesmente sutras escritos ou ditados, sei lá, por aqueles que um dia foram Ananda, Maitreya e outros grandes discipulos do buda. A tradicao deve ser preservada, e ela continua a fluir….”
Ora, é um profundo engano o de sugerir que o theravada teria ficado com as regras morais enquanto o ‘augusto’ mahayana com os ensinamentos profundos! Podemos perguntar de onde se tira tanto absurdo e preconceito? E quanto à afirmação de o Theravada ter ficado ‘parado no tempo’!! O Mahayana tem pelo menos 2000 anos. Parece aqui uma estória do idoso de 90 anos chamando de velho o de 100! E Maitreya reencarnado??!
Daí a conclusão da autora: “Por isso gosto mais do mahayana… que considero menos moralista e mais filosófico e profundo“. Aqui vemos um fenômeno extremamente comum, ou seja, em geral, o motivo porque as pessoas gostam mais de uma do que de outra escola ou tradição tem mais a ver com aquilo que ‘pensam e imaginam’ que uma escola é do que com o que elas sejam de fato.