Na pressa de noticiar ou mesmo pela falta de cuidado em buscar uma orientação de líderes buddhistas antes de escrever alguma coisa (algo comuníssimo na impressa brasileira) uma notícia foi veiculada hoje no Estadão, de que: “Durante as marchas, muitos monges têm carregado suas tigelas de arroz de cabeça para baixo, indicando sua recusa em receber as almas dos membros do Exército“. Obviamente que tal afirmação supreende buddhistas bem informados, mas muito provavelmente terá passado batida pela imensa população. Foi nosso amigo FZanelato que nos trouxe conhecimento da notícia bem como a possível explicação para os monges recusarem as “almas” dos militares, num gesto não só doutrinalmente incorreto, mas escatologicamente perigoso! Muito provavelmente isso deve à tradução apressada e mal-cuidada da notícia no original inglês, em que deve constar que os monges estão recusando receber alimentos em sua ronda diária, como é costume nos países Theravada. A ronda diária de alimentos é chamada em inglês de “alms round”, literalmente algo como “ronda por esmolas”. O jornalista leu “alms round” e deduziu que os monges estavam recusando as “almas” dos militares…
Todos que lêem jornais ou estão um pouco sintonizados com as notícias no mundo, sabem que está ocorrendo uma grande movimentação social na Birmânia (Myanmar) liderada por monges. Isso é extremamente interessante e, claro, todos nós aguardamos em suspense para ver o que vai acontecer. Se alguém pode fazer alguma coisa para deter o governo que se mantém no poder há décadas, é exatamente a sangha monástica, que goza de alta estima na população, e contra a qual os militares temem tomar medidas mais drásticas por medo de um levante ainda maior. É claro que o suspense é grande, e nossa esperança é que tudo acabe bem, e sem derramamento de sangue, que é algo que realmente pode ocorrer dada as condições.
rsrs… Tem um livro sobre esses desastres de tradução que se chama The Cow Went To The Swamp. =D rsrs
É cada uma. rs
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