Ontem eu havia escrito isso:
Olha, eu até que procurei. Mas nada encontrei sobre a posição do presidente Lula sobre a situação da Birmânia (Myanmar). Somente encontrei uma citação num blog que diz que “Lula foi contra sanções ao governo militar birmanês”. Então, para não ser injusto, pergunto aos leitores das Folhas, alguém já leu alguma coisa sobre isso? O governo brasileiro tem estreitos laços com o governo chinês (aquele mesmo que também mata monges buddhistas tibetanos) e o mais lógico é que fosse também contra sanções ao governo militar birmanês.
Agora, o Brasil é o mais influente país da América Latina. Então não se pode vir com a posição de que uma opinião oficial a respeito não tenha influência. Mas parece que, como em tantas outras questões, é mais fácil virar de lado e fingir que não é contigo.
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Mas antes de enviar a mensagem, o leitor Paulo já havia comentado na folha anterior: Deu na Folha de São Paulo de 28/09/2007: “Celso Amorim, disse que o Brasil não adotará sanções unilaterais contra Mianmar“. Então, é isso, temos a posição oficial do governo brasileiro sobre o assunto. Podem matar monges, civis, tirar toda liberdade individual, arrombar casas, sequestrar, aprisionar, fuzilar… o Brasil não faz nada, nem adota medida alguma. Parabéns Celso Amorim, parabéns Lula, esse é um presente para todos os brasileiros que viveram décadas de ditadura e perseguição.
Uma das características mais fascinantes do ser humano é como ele muda de lado com facilidade. Amigos nos quais confiávamos, aos quais nunca fizemos diretamente mal algum, viram de lado, mostram outra face e começam a nos atacar por trás. Pessoas que viveram a ditadura e mesmo foram exilados, uma vez no poder e corrompidos pelos interesses econômicos, “esquecem-se” do passado e vestem-se de Pilatos. ‘Isso não é comigo‘; ‘desculpe-me, ligaram para o número errado‘.
Senhor Celso Amorim, senhor Luiz Inácio Lula da Silva, a junta militar tem arrombado casas e mesmo escritórios da Onu, para confiscar videos que a ajudaria a identificar os líderes do movimento pacífico que estiveram nas ruas. Vocês se lembram de algo semelhante ocorrendo no Brasil?
Não é preciso muito para se corromper. Um pouco de poder, um pouco de elogio, um pouco de ilusão sobre si mesmo, e o passado é esquecido, o caráter moral é colocado de lado, e lavamos as mãos. É como o governo chinês, amiguinho do governo brasileiro. Dizem que a crise na Birmânia é um ‘assunto interno’. Mas tal assunto interno não impede ou impediu que por décadas o governo chinês influenciasse ativamente a política birmanesa e retirasse seus pomposos lucros. Esse é o mundo em que vivemos, o da mentira institucionalizada, o do lucro pessoal sobrepujando qualquer dignidade e defesa por causas mais que justas. Parabéns, então, a todos os omissos e a todos os que lavam as mãos! Vocês são aqueles a quem devemos por ter o mundo que agora temos….
As atitudes de nosso governo nestes temas me cobre de vergonha. Quando é preciso mostrar coragem e dignidade achamos mais fácil nos cobrir com o manto da vantagem comercial, da indignidade corrupta, do levar vantagem em lugar de ter posturas elevadas. Não é de admirar que a república brasileira seja um valhacouto de mentirosos que nunca sabem de nada e não são responsáveis por corrupção alguma.
De fato, é desalentadora a atitude do governo brasileiro.
Mas nossa diplomacia, desde o Barão do Rio Branco, caracteriza-se pela excessiva discrição (digamos assim).
E Celso Amorim, tanto quando foi ministro de FHC e agora, como ministro de Lula, apenas reproduz o padrão secular de nossa “cordialidade”.
Paulo
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