Ainda que o ‘não-eu’ seja uma parte tão falada da doutrina buddhista é interessante notar quão incomum é sua utilização como parte da ‘prática’ rotineira das pessoas. Essa prática, entretanto, revela-se como essencial no caminho. Há várias formas de aplicá-la. Kubose-sensei, por exemplo, propõe um exercício em cinco etapas progressivas de investigação do não-eu. Um resumo dessa prática se dá assim: Começamos refletindo, inseridos no ambiente meditativo, sobre as instâncias em que o eu se manifesta, inclusive nas formas verbais do “Eu penso que…“, “Eu fiz isso...”. Trazido isso à consciência, leva-se à mente a noção de que o eu “é o somatório de outros. Não existe um ‘eu’ separado dos outros”; e isso é feito através de uma investigação da interdependência do ‘eu’. O passo seguinte é a aplicação específica em situações de relacionamentos na vida. Cada relação mostra uma faceta da interdependência e naturalmente isso leva a um modo ‘não-eu’ no trabalho, nas artes e mesmo nos esportes. O ponto aqui é que o não-eu não é ‘algo’ há ser alcançado. Ele já é. E, sendo, está aqui presente, sem o percebermos. O movimento de contemplação culmina na própria natureza das coisas, quando vemos claramente que “As flores desabrocham sem pensar em si mesmas, o vento sopra sem pensar em si mesmo, as águas correm sem pensar em si mesmas e as crianças não pensam em si mesmas nas suas palavras e ações. Por isso são belos“. Que todos possam refletir isso em suas vidas.