O Nepal se prepara para suas primeiras eleições. A monarquia liderada pelo rei hindu Gyanendra (que tanto prejuízo causou) irá embora, e uma Assembléia constituinte será eleita em breve. Oito já morreram recentemente por causa das eleições. Maoístas radicais tentam prejudicar de todas as formas (na Índia eles são fonte constante de violência, emboscadas e terror) e acabam enfrentando a polícia. Quando estivemos no Nepal um ano atrás, quase não entramos, pois pouco tempo antes várias greves e passeatas fecharam o Nepal para visitantes.
Também no Butão o processo de transição começou para a monarquia deixar o poder, mas lá, tudo se passa na tranquilidade.
Enquanto isso, o mundo político se divide em dois sobre a questão do Tibet (da mesma forma que aconteceu no caso da Birmânia). Países de tradição democrática como França, Austrália, Alemanha, e a maioria dos países europeus mantêm-se criticando quanto à política violenta e impermeável a negociações do governo comunista chinês. Países de tradição ah…bem… “econômica”, como o eh…Brasil… e outros de governos comunistas como Bangladesh, Cuba, etc. temerosos pela diminuição do $$ no bolso que poderia advir de uma palavra pró não-violência, apóiam incondicionalmente a China. No Tibet os protestos continuam frente a qualquer jornalista que aparece por lá.
Um dos aspectos embaraçosos para a China têm sido a passagem da tocha olímpica pelos países. Incidentes já ocorreram em Londres e Paris (com o “apagão da tocha”). Dia 17 de abril a tocha passa por New Delhi na Índia, e dezenas de manifestantes já estão chegando na capital indiana. Nos EUA já se discute alterar as rotas da tocha no país. Milhares protestaram na chegada da tocha a São Francisco.
No Brasil as manifestações pró-Tibet são extremamente modestas, talvez pela falta de uma maior organização entre centros buddhistas ou talvez pela falta de engajamento político da população brasileira em geral, pois isso não é apenas uma questão do Buddhismo, mas de um genocídio cultural que se dá há décadas. Para que protestar no Brasil se, afinal de contas, tudo termina em pizza nesse país?
Também há eventos auspiciosos. Um exemplo em termos de mobilização é o evento que ocorrerá em breve em Curitiba (tendo ocorrido já em algumas cidades brasileiras) com a exposição de relíquias buddhistas. O evento tem apoio do dinâmico grupo do prof. de Dharma Padma Samten e ocorrerá de sábado a segunda nas Faculdades Integradas “Espírita”, no salão Chico Xavier, à Rua Tobias de Macedo Júnior, 333 – Bairro Santo Inácio. Internacionalmente este projeto, chamado de Maitreya, é organizado por Zopa Rinpoche que espera em breve guardar as relíquias numa estátua de 152 metros na pequena cidade de Kushinagar, na Índia. Lama Zopa é responsável pela Fundação para a Preservação da Tradição Mahayana. Anos atrás estive presente em um curso da fundação lá em Kathmandu.
Como nota final, nasceu na Índia, menos de um mês atrás, uma menina com duas faces. Isso mesmo, quatro olhos, duas bocas e dois narizes. O que no resto do mundo seria uma aberração e fonte de inexprímivel sofrimento, na Índia, ó Índia, está sendo tomado pelos pais e moradores do vilarejo de Saini Sunpura como uma manifestação da deusa Durga. A menina Lali parece estar com boa saúde, e perguntado sobre se queriam mais exames da filha, o pai respondeu que por enquanto não, pois ela parecia muito bem. Enquanto o chefe do vilarejo já pensa em pedir a ajuda do governo central para a construção de um templo, Lali toma leite com uma boca enquanto chupa o dedo com a outra!
Quando ouço notícias a respeito destes conflitos no Tibet e na Birmânia brotam em mim emoções contraditórias. Aqui o olhar sob a perspectiva do Caminho do Meio tb é necessário para não perdermos a lucidez diante dos acontecimentos. O equilíbrio entre compaixão e sabedoria. Por favor, leiam esse trecho do livro Passo a Passo, de Ven. Maha Gosananda, que nosso amigo Flávio de Curitiba colocou no site, ele vem de encontro a essas reflexões: “Enquanto muitos buddhistas estão sofrendo no Tibet, Camboja, Laos, Birmânia, Vietnam e em outros lugares. O mais importante que nós, buddhistas, podemos fazer é incentivar a libertação do espírito humano em cada nação da família humana. Devemos usar nossa herança religiosa como um recurso vivo.O que pode o Buddhismo fazer para curar as feridas do mundo? O que o Buddha ensinou que podemos utilizar para curar e elevar a condição humana? Um dos atos mais corajosos do Buddha foi andar em meio a um campo de batalha a fim de parar um conflito. Ele não se sentou em seu templo esperando os oponentes se aproximarem dele. Ele andou direto para o campo de batalha a fim de parar o conflito. No ocidente chamamos isto de “resolução do conflito”.Como solucionamos um conflito, uma batalha, uma luta de poder? O que reconciliação significa realmente? Gandhi disse que a essência da ação não-violenta é que ela coloca um fim no antagonismo, e não nos antagonistas. Isto é importante. O oponente tem o nosso respeito. Implicitamente confiamos em sua natureza humana e entendemos que a má vontade é causada pela ignorância. Apelando para o melhor em cada um, conquistamos a satisfação da paz. Ambos nos tornamos fazedores da paz. Gandhi chamou isto de “vitória bilateral”.
Nós, buddhistas, devemos encontrar a coragem de sair de nossos templos e entrar nos templos da experiência humana, templos que estão cheios de sofrimento. Se escutarmos o Buddha, Cristo ou Gandhi, não poderemos fazer nada a não ser isso. Os campos de refugiados, as prisões, os guetos e os campos de batalha se tornarão, então, nossos templos. Temos tanto trabalho a fazer.
Abraços a todos! Selma
Essa situação é preocupante, e é difícil entender a posição de nossos líderes políticos….
Uma forma de protestar é por aqui:
http://www.avaaz.org/po/tibet_end_the_violence/20.php?CLICKTRACK
Daniel
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