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Pensamentos de uma bomba

Em 1966, um jovem americano de 19 anos teve que voltar para casa. Ele havia sido atingido por uma mina durante a guerra do Vietnã. A ironia de tudo é que ela havia sido fabricada nos EUA, e tomada pelos vietcongs para se defender do ataque americano. Em 2003 esse soldado, agora um praticante buddhista, voltou ao local onde havia sido ferido e compôs esse poema na voz da própria mina que o feriu. Faço uma tradução para os leitores das folhas:

Ao longe, crianças riem e brincam.

Atentamente armada, estou pronta para morrer.

Acima de mim, folhas filtram o sol de julho.

Sob um cobertor de terra eu espero.

Braços de fios, tensos, frios e expostos.

Sem consciência, soldados se aproximam sem saber de minha presença.

Um passa com o pé sobre mim, se vira, e senta.

Pacientemente eu espero sabendo que há outros.

A sombra de uma bota bloqueia o sol.

À medida que minhas mãos se juntam, eu explodo.

Livre da terra eu me transformo.

Sou vento empurrando o metal sem pensar.

Encontro carne, então osso, e paro.

Morte, meu propósito e destino agora completo.

Ao longe, crianças riem e brincam. (Paul Davis)

É inacreditável, para qualquer mente minimamente sadia, conceber que alguém decida fazer de sua profissão um construtor de armas. Que alguém resolva construir fuzis, bombas e minas para destruir. Dentre elas, as minas de fragmentação (cluster bombs) são das mais cruéis. Ao serem detonadas elas lançam em todas as direções estilhaços de metal que quando não matam, aleijam permanentemente. A idéia é fazer o maior estrago possível. Faixas inteiras do Camboja estão ainda hoje plenas de minas à espera de estourarem. Desnecessário dizer, as principais vítimas são as crianças que pisam nelas enquanto inocentemente brincam pelos campos.

Aprendi uma coisa que não sabia nessa viagem ao Vietnã. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de minas de fragmentação…

1 comentário em “Pensamentos de uma bomba”

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