Por um pouco de simplicidade
Quando sentar-se à sombra de uma árvore e lançar o olhar sobre um prado, verde e amplo, nos parecer caipira demais, talvez, já seremos, 100%, homens do “progresso”. Nossas fontes de felicidade, então, serão bem outras, e um ambiente escuro – com luzes que giram no teto – e uma música em ritmo de pancadas, poderão arrancar, desta nossa exigente alma, um sorriso.
À medida que se multiplicam as fontes de… estímulos, descobrimos o quanto é fora de moda o gosto pela simplicidade, e até o amor entre casais passa a exigir aprimoramento. (É possível que flores não convenham mais como presente, pois, efêmeras, elas dizem o que queremos esquecer: a beleza do que é tangível passa. Entram em cena os elixires da juventude, na forma de bisturis e posses, pretendendo adiar a velhice, que – sendo outrora a Idade da Sabedoria – desejaríamos não chegasse jamais, a despeito de nos condenarmos à eterna tolice).
O amor ganhou a condição de ser volátil sob o pretexto de “liberdade”, e a imaginação assumiu – ante a palidez da realidade – o compromisso de pintá-lo e desfazê-lo onde bem quiser. O imaginar cumpre também o papel do conhecer e, assim, o amor, que poderia ter por prelúdio o conhecimento mútuo entre um casal, já nasce de imediato entre estranhos, ao mando impaciente da imaginação. Não deveria nos surpreender o fato desse amor ficar pronto tão instantaneamente quanto certos macarrões. Afinal, o “progresso”que nos alimenta é o mesmo que nos invade a alma, embora sem nunca poder saciá-la. Em meio aos “avanços”, o silêncio guarda – ameaçador? – nossos íntimos segredos, mas algo nos alivia do desagrado de precisar ouvi-los: a necessidade de barulho. Até as amizades tornaram-se ruidosas, quando bastaria, às vezes, a simples presença do amigo, para entendermos, no silêncio, que nosso encontro se enriquece em mudos olhares de aceitação, e se anula no excesso de palavras vãs.
Um pouco mais de simplicidade e reconheceríamos o brilho passageiro das formas e diríamos: “A velhice virá”. Veríamos secar as flores e diríamos: “É a morte”. Faríamos um jejum de “progresso” e perceberíamos, para nossa surpresa, nossas almas menos famintas. Não temeríamos o silêncio e nossos segredos se tornariam nossos desafios. Assumiríamos, enfim, a aventura humana.
Mas a simplicidade é frágil e se quebra com facilidade. Frágil como aqueles segundos em que, terminada a festa e desligado o som, redescobrimos no vazio nossa incompletude, e um gesto simples, dos homens ou da natureza, nos parece fazer sentido.
Luide L. O.
Utilizando essa linguagem simples, inteligente e filosófica…com toda sedução de sua retórica, o resultado foi um só: assimilei sua mensagem! Sucesso e continue escrevendo!
Vanessa Luísa
Bom dia Luide.
O que percebo com seu texto é que vivemos um período muito semelhante àquele narrado por Aldous Huxley em “Admirável Mundo Novo” – um mundo marcado pelas relações efêmeras e distrações incessantes, onde não há lugar para a simplicidade, para o estar consigo, para a admiração do que há em volta e relações mais profundas com o outro. Parabéns pelo texto.
os textos do Luide são sempre recheados d delicadeza e é por ela q ele nos faz pensar.
gostei mto, Luide!!!!!!
bjs,
myla
Muito bom! E é bom também encontrar pessoas simples por aqui.
E mais um pouco sobre simplicidade:
“É mais fácil chegar ao teto de uma cabana, do que ao teto de um palácio”. São Francisco.
Maravilhoso o texto! É do próprio Luide L. O.?
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