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Conversando com alunos americanos

Na semana passada participei, como sensei convidado, de uma teleconferência via fone com alunos de Buddhismo dos Estados Unidos. Entre as perguntas muito interessantes aquelas tocando a questão da adaptação do Buddhismo e da tradição Theravada em solo ocidental. “Que efeitos o senhor prevê provenientes da americanização do Theravada tanto em sua forma positiva quanto negativa?“, foi uma das perguntas.

Esse é, na verdade, um assunto que muito nos concerne. Muito da expansão do Buddhismo no Ocidente está acontecendo através de campos que não são tradicionais na Ásia, como o interesse na física, psicologia e ecologia. O Buddhismo parece ter uma particular relevância nesses temas tão contemporâneos. Assim, o Buddhismo Ocidental já vem transformando de forma significativa o Buddhismo Mundial. Mas, claro, a tradução fiel de toda uma tradição espiritual não é uma tarefa para um pequeno grupo de indivíduos, nem para uma ou duas gerações. Haverá certamente lacunas, efeitos negativos, tomadas de ruas sem saída. Um dos efeitos negativos, expliquei, parece-me ser uma falta de profundidade em vários setores. Por vezes, ocorre uma transformação da via buddhista em uma terapia psicológica ou de “nova era”. Outras vezes, o que vemos é apenas uma repetição de costumes e formas asiáticas, sem se ter realmente entendido sua essência.

Outra pergunta associada a essa foi a de que, uma vez que o foco nos Estados Unidos é principalmente em práticas não-buddhistas e sua pouca inclinação para o tradicional e religioso, se a descoberta das diversas aplicações para vipassana que tem sido descoberas como benéficas, poderia ser uma ajuda ou um obstáculo para a expansão do Theravada.

Essas são questões muito boas e não penso que haja uma resposta simples e única para elas. A adaptação do Buddhismo no Ocidente é um fenômeno complexo. Minha resposta na ocasião foi de que esses aspectos tanto ajudam quanto atrapalham. Se não fosse pelo trabalho pioneiro dos assim chamados “professores de vipassana” décadas atrás, é provável que não houvesse Theravada num sentido significativo no Ocidente. Parece-me que uma parte considerável dos professores tradicionais de países theravada tem dificuldades em tornar suas mensagens adaptadas ao ouvido ocidental. E isso eu considero essencial. Assim, o movimento vipassana deu uma perspectiva completamente nova para uma expressão Theravada.

Por outro lado, como sabem aqueles que conhecem o vipassana norte-americano, quando retirado do tradicional ambiente monástico, o que se nota é que se torna muito fácil para os “professores de vipassana” começarem a misturar vipassana com um número de abordagens “nova era”, técnicas psicológicas e várias espiritualidades. Eu diria que o mesmo ocorre com o zen. Dessa forma, talvez seja mais uma questão de tempo para que os diferentes professores sejam distinguidos; e aqueles que se mantiverem fiéis à essência dos ensinamentos serão capazes de manter a herança de uma certa forma.

Marcações:

3 comentários em “Conversando com alunos americanos”

  1. é sempre bom ouvir opsssss ler reflexões, de quem faz, ou seja botam a mão na massa.

    embora o seu foco seja o theravada, creio que dá para se pensar o Budismo de forma geral.

    e aqui em terras tapuias, eu fico
    sempre muito espantada, com os ” messias” “salvadores” que aparecem com um discurso prontinho ( não importa a tradição que dizem pertencer, estou aproveitando seu post para refletir de forma geral…rs)se esquecem que tudo o que aparece agora, foi o trabalho de muitos, as vezes silencioso, sem gdes alardes, etc…etc…

    bem vou parar por aqui, que ainda estou meia “bufando” com posturas que vejo por ai, e isso aqui naum é um rosário de lamentações…hehehe

    o post é ótimo, e parece-me que vcs: vc, o Rev. Genshô, ou seja o pessoal que criou o CBB,aqueles que tem peso, por seu longo trabalho ( não estou falando de colaboradores que surgem na calada da noite com discursos criticos, prontos.) estão afinados hj…rs ele tb tem um post bem interessante no dia de hj.
    até pensei em dar um pitaco por lá.

    gasshô

    ana

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