Após deixar o mosteiro thailandês de floresta, Ghosananda caminhou direto para o campo de batalha em que o Camboja havia se tornado após a intervenção pós-americana e durante o surgimento e reinado do regime khmer de Pol Pot. De 1975 até o início de 1979, as práticas genocídas de Pot dizimaram quase dois milhões de cambojanos através de execução, trabalho forçado e fome. Juntamente com o povo cambojano em seu sofrimento e morte estavam perto de 62.000 de seus 65.000 monges buddhistas, incluíndo a própria prática “oficial” do Buddhismo. Ghosananda, que entrou em um campo de refugiados cambojanos localizado na fronteira thailandesa em 1978, deve ter parecido ao povo doente e faminto do campo como se fosse um fantasma vestido com o manto laranja. Muito em breve, entretanto, as pessoas começaram a se dirigir aos bandos em sua direção, recebendo dele um verso do Metta Sutta que dizia: “O ódio nunca é vencido pelo ódio; somente o amor pode vencer o ódio”.
Ghosananda, que havia conhecido profundamente o sofrimento, andou com grande serenidade pelo campo imundo. Era frequente ser dito a seu respeito que alegria e felicidade pareciam irradiar de seu ser; ou como o monge beneditino James Wiseman costuma se lembrar: “Ao olhar para o Venerável Ghosananda, tinha-se a impressão de que não apenas seu sorriso mas todo o seu corpo era radiante. Parecia que sua pele havia sido tão lavada que ela brilhava”. Ghosananda, em outras palavras, era a encarnação do sutta que distribuía para as pessoas do campo. Por dar a elas primeiramente o sutta ele não estava ignorando as necessidades físicas dos refugiados, mas estava, realmente, dando a eles um instrumento de bem-estar para toda a vida.
Nota: Para conhecer mais sobre a história do Camboja nesse período negro e os ensinamentos de Maha Ghosananda, confiram “Passo a Passo“.