Um exercício que costumo propor para clientes, alunos e amigos com certa regularidade, e que, claro, exercito eu mesmo, é o de imaginar sua própria vida daqui dez ou vinte anos. Particularmente acho que isso, quando bem aproveitado, propicia uma incrível perspectiva sobre a vida no presente, nossas decisões, opiniões, confusões… Lá no futuro, faríamos novamente o que estamos hoje a fazer? Sentiríamos hoje o que sentimos se soubéssemos o que haveremos de saber daqui tantos anos? E ficaríamos contentes com aquilo que fizemos, dissemos e empreendemos? É certo que o futuro nunca é o que pensamos que seria mas, ainda assim, o exercício, creio, continua válido. Nos dá perspectiva, distância saudável que um presente próximo demais, estreito demais, nos faz embaçar a visão.
Por esses dias topei com um blog cujo título é muito interessante, My Journey to Mindfulness, e que, apesar do título e das muitas referências de leituras de autores bem conhecidos no círculo buddhista, não é um blog estritamente dedicado à prática da meditação ou coisa assim. Mas não é do blog que interessa falar aqui, mas da descrição do perfil que me parece tão bem expressar o que tenho em mente no primeiro parágrafo:
A Jornada de uma Mulher
Este diário é escrito para o meu prazer, meus filhos e netos. Compartilhar algo de meu passado, presente e pensamentos para o futuro. É o diário de uma alma sensível que entrou em sua terceira idade. Minha jornada de vida me levou para muitas estradas, com muitas viradas e quebradas. Não é a jornada que visualizei quando tinha 25 anos com um terceiro filho no horizonte. Amo o calor do sol, o som da chuva, o barulho do fogo, simplicidade e elegância. Encontro prazer em sentar-me na varanda com o chá numa xícara de porcelana e cavando a terra. Sou mais eu mesma nessa altura da vida do que jamais fui. Uma parte considerável de meu passado foi gasta no mundo dos negócios, em multitarefa e sendo super organizada. Hoje tenho tentado simplificar e ser mais vigilantemente observadora. Não é tão fácil quanto pensei, mesmo tendo muita solitude nessa época da vida. Meus dias voam e não creio que terei tempo suficiente na terra para fazer e experienciar tudo aquilo que é o desejo de meu coração. Uma coisa da qual tenho certeza é que não poderia ter seguido nessa jornada sem minha oração diária e o tempo para a meditação.
Talvez uma marca de amadurecimento, não sei, esteja resumido nisso. Ver a vida com mais perspectiva, deixar de perder tempo com o inútil, o gosto pelo olhar mais atento, a preferência pela simplicidade, pelo chá e pelo barulho do fogo e do vento.
E vocês, quando do futuro olham o presente, o que vêem?
Boa forma de colocar Jorge, apenas tiraria a palavra ‘esforço’. Seria uma atividade mais ‘contemplativa’ que propriamente algo pra se colocar muita energia.
Isso me lembra uma frase do filme Don Huan de Marco:
“Existem quatro perguntas que devem ser feitas na vida:
– O que é sagrado?
– O que é o espírito?
– Por que vale apena viver?
– Por que vale apena morrer?”
Entendo esta perspectiva que você propõe, este espaço, distância, como um esforço no sentido de desembaraçar-se da estreiteza do envolvimento de um self que possui as experiências, as vontades, os hábitos…
É isso?
Fiz o exercício. É eficáz e esclarece.
Josane
É bem mais do que isso que tenho em mente. Não é um mero avaliar se estou fazendo algo direito agora. É acrescentar perspectiva, espaço, distância em relação à opressividade que uma visão estreita do presente pode proporcionar.
Certo, certo… É como uma análise de probabilidades…
Eu, lá no futuro, ficarei satisfeito com os frutos da minha semeadura atual…?
Este exercício eu faço sim! É a constante contemplação do presente…
É por isso que falei “quando bem aproveitado”, pois o que propus não é imaginar vc no futuro, mas sim refletir sobre o presente com base em se ver desde o futuro.
Eu fazia muito isso pelos meus 16, 17 anos. Comprovo que hoje o resultado que colho é o fruto exato do que fiz e, há muitos também, do que não fiz! Curioso é que, devido ao meu entendimento do dhamma hoje, não faço mais isso! Realmente não penso em como estarei daqui a anos vindouros. É um exercício que não me atrai…
A constante contemplação (ou ao menos o esforço nesse sentido!) do presente, como que minguou o meu interesse pelo futuro no sentido de imaginar tal ou tal situação…
O certo é que sinto-me incoparavelmente mais feliz e contente hoje do que nos meus idos dezepoucos… Mas,pensando bem, será que será assim daqui a dez anos?
;D
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