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uma vida sem mágica

Uma das coisas mais misteriosas é tentar entender porque as pessoas agem como agem e, claro, porque deixam de agir. Na folha anterior mencionei um exercício possível para ajudar a recuperar a perspectiva de um presente aprisionador. René Descartes dá uma outra dica: ‘Para saber como as pessoas realmente pensam, prestem atenção ao que elas fazem, ao invés de aquilo que elas dizem’. Verdadeiramente, estamos repletos de ‘faladores‘ e poucos ‘fazedores‘. As pessoas falam que querem isso e aquilo, mas que passos efetivos estão fazendo para chegar naquilo que dizem ‘querer‘? Lembro-me muitos anos atrás de um cliente que regularmente me dizia de sua vontade de ter um livro escrito, e mencionava sempre o fato de eu, comparativamente tão novo, já ter livros escritos e publicados. Mas, quantas horas ele se sentava para efetivamente escrever? Nenhuma. Ficamos perdidos em nossos sonhos, uma imensa energia é gasta e, no fim, tudo ficou apenas no sonho, nada mais. A boca diz uma coisa, mas as ações dizem outra bem diferente. Uma extraordinária energia emocional desperdiçada da forma mais banal.

Nessa semana temos visto no Nalanda alguns ensinamentos do Buddha sobre a atitude do vitorioso. Ele nos lembra que só há um caminho, aquele que não pára diante dos ilusórios confortos e falsas seguranças, nem se agita insanamente debatendo-se sem sair do lugar. Isso exige sabedoria, sim, mas sobretudo não se entregar à preguiça, à fuga, ao deixar para uma outra ocasião. Na corrente do samsara, deixamos o passado para o passado, enterramos os mortos e dizemos uma prece, mas não chafurdamos no passado nem carregamos os mortos em nossas costas. Esquecer disso é nunca ter força para nadar, é ser carregado pela corrente, pois nosso apego àquilo que passou nos arrasta de volta ao ponto de onde nunca conseguimos sair.

Daqui há alguns anos, você ficará mais desapontado com as coisas que não fez do que com aquelas que fez‘. Mark Twain acerta no ponto preciso do medo, do fracasso, da vida sem qualquer chance de plenitude. Quem tem medo de fracassar, errar ou ser criticado tem seu lugar garantido entre a massa anônima dos telespectadores de novelas, big brother, dos que reclamam de como o mundo é injusto e não lhes oferece oportunidades. É uma importante lição do velho Twain, aquilo que você deixa de fazer e ousar pesa mais lá no futuro do que aquilo que você faz e, talvez, venha a fracassar. Existe uma mágica e um poder que se congregam em torno dos que agem ao invés de só pensar, dos que fazem ao invés de só desejar. O mundo de certa forma conspira a favor daqueles que ousam e agem.

Marcações:

4 comentários em “uma vida sem mágica”

  1. Bem lembrado Agustinho! Parece haver uma tendência ao pessimismo e à tristeza em algumas pessoas. Luide, ótimas citações! Na verdade eu estava com a frase de Goethe em mente quando escrevi o último parágrafo! 🙂

  2. Existem tambem os que se prendem às coisas ruins e ao desanimo.
    Alguem já disse que ” as piores coisas da minha vida na realidade, nunca me aconteceram”.

  3. “A maioria de nós possui duas vidas. A vida que vivemos e a vida não-vivida que existe dentro de nós. Entre as duas, encontra-se a Resistência.”

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    “[A Resistência] é uma força de repulsão. É negativa. Seu objetivo é nos afastar, distrair, nos impedir de fazer nosso trabalho.”

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    “A Resistência obstrui a ação apenas de uma esfera inferior para uma esfera superior. Ela se manifesta quando buscamos seguir uma vocação nas artes, iniciar um empreendimento inovador ou evoluir para um patamar moral, ético ou espiritual mais alto.”

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    “Quando concebemos um empreendimento e nos comprometemos com ele a despeito de nossos temores, algo maravilhoso acontece. Uma ruptura surge na membrana.”

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    “Aprendi a ter profundo respeito por um dos versos de Goethe: “A ousadia encerra em si mesma genialidade, magia e poder”.

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    “… o desprezo pelo fracasso é a nossa principal virtude.”

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    “Não nos prive de sua contribuição. Dê-nos o que você possui”.

    (Todas as citações acima, as quais este post me fez recordar, foram retiradas do livro “A Guerra da Arte” de Steven Pressfield)

  4. Creio que quando um querer se sobressai sobre todos os outros quereres que nutrimos, a vida começa a entrar num equilíbrio favorável entre vontades e ações, a saber: querer o Entendimento Correto.

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