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A Completude da Compreensão

Dentre as oito práticas propostas pelo Buddha em seu famoso Nobre Caminho Óctuplo, a chamada Compreensão Correta é curiosamente a menos abordada. Também traduzida como Visão Correta, essa é a primeira prática a figurar na descrição do Caminho Óctuplo, o que por si só garantiria uma preeminência mas, no entanto, a tendência é considerá-la como uma mera compreensão daquelas doutrinas básicas do Buddhismo. Será mesmo assim? Será que preenchemos esse primeiro requisito meramente lendo livros sobre Buddhismo ou essa compreensão pode envolver outras coisas que geralmente não levamos em consideração? Qual é a noção clássica desse primeiro fator do Caminho Óctuplo e como podemos acrescentar uma nova dimensão em nosso entendimento no topo dessa noção clássica?

Note-se que chamo de “prática” os fatores do caminho óctuplo, o que já indica que esse primeiro fator não consiste simplesmente de uma teoria. Mas será que também nossa noção de “prática” poderia estar contaminada pelo mesmo entendimento ordinário que contamina nossa noção do que seja uma compreensão? E o que dizer da palavra “samma”, que pode significar “correto”, mas mais precisamente significa “completo”?

Esses são alguns do tópicos que vou apresentar nesse fim de semana em São Paulo. Um dos temas mais fascinantes para mim é como o entendimento que temos do Buddhismo pode ser tão influenciado pela nossa própria cultura, educação moderna e conformação psicológica que pode levar a uma completa inapreensão do que o Buddha quis dizer originariamente. Interpretamos palavras chaves como se o Buddha pensasse da mesma forma que nós e usasse as palavras nos mesmos sentidos com os quais crescemos na cultura ocidental moderna. Você sabe, por exemplo, o que são as noções de estar presente, alma, eu ou realidade na cultura ocidental moderna e no Buddhismo?

Nesse fim de semana, então, além de vermos como que tradicionalmente é visto o primeiro fator do Caminho Óctuplo, vamos poder discutir também todas as más concepções que temos e que pensamos que é o Buddhismo, a questão das adaptações, a ilusão do presencialismo dominante na comunidade buddhista, as noções de via positiva e via negativa, etc.

Enquanto isso será desenvolvido nas tardes do sábado e domingo, nas manhãs vamos focar mais na meditação, tanto em instruções como também no entendimento de certas noções chaves que nos permitam “entender” o que estamos fazendo. Quem estiver passando por São Paulo, apareça!

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6 comentários em “A Completude da Compreensão”

  1. Estou muito grata a Dhanapala pela forma como explica os textos antigos, e não só, através dos meios que disponibiliza a quem estiver realmente interessado, e como o seu estudo é profundo e sério, porque, como se tem vindo a constatar, por exemplo neste curso que está a decorrer sobre a leitura do Dhammapada, que uma simples palavra que aparentemente passaria despercebida à maioria de nós, afinal, no contexto daquela época e sociedade, tem um significado bem específico. Pena não ter tido hipótese de ouvir em direto as palestras em São Paulo! Bem-haja!
    Fátima(PT)

  2. Pois é, Teka, muito frequentemente captamos apenas um fração do que realmente lemos|ouvimos. E se não bastasse isso,também nos é transmitido apenas uma fração devido também aos condicionamentos culturais e mentais dos que transmitem.

  3. Você abordou um aspecto que tem sido crucial para mim. Sempre me pergunto se o que estou entendendo é realmente o que foi dito pelo Buddha.Pena não poder estar em São Paulo!

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