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O Primeiro Hacker

De nosso amigo Eduardo:

Este texto vai ser discutido nesta de 6ª Feira 01/07 (juntamente com a sessão de meditação), no novo horário do Nalanda BH:

Há mais de 2.500 anos, muito antes da revolução tecnológica que culminou com a era da informação, surgiu na Índia, no clã do Sakyas, a figura que, além de se tornar um líder espiritual, foi o primeiro hacker do mundo: o Buddha.


É preciso, em nome da precisão terminológica, esclarecer a diferença entre hacker e cracker. O hacker é um estudioso da tecnologia da informação. Ele é especialista em quebrar barreiras, divulgar ideias de liberdade e aprimorar o funcionamento de um software. Sua atuação é ideológica e está relacionada com a manutenção da livre circulação de informações à população de maneira geral.


O cracker, diferentemente, procura quebrar barreiras de segurança com finalidades escusas, como o enriquecimento ilícito, subtraindo senhas bancárias e números de cartões de crédito.


O leitor deve estar se perguntando: “Como poderia o Buddha, muito antes da invenção do computador, ter sido um hacker?”.


Outro significado do termo hacker é decifrador (1).


A resposta é simples, ele conseguiu hackear (decifrar) talvez o mais complexo sistema de informações existente no universo: a mente humana.


Sua busca nobre culminou na descoberta dos padrões mentais que levam ao sofrimento e ao seu fim, o Nibbana. Esse hacker colocou a felicidade ao alcance da humanidade.


Além disso, a forma utilizada para manter vivos os seus ensinamentos, mesmo após vinte e cinco séculos, é exatamente a mesma largamente utilizada hoje pelo movimento do software livre: a criação de uma comunidade.


A sangha, às vezes (erroneamente) traduzida apenas como a comunidade de monges, sobrevive de doações e da interação entre os monges e os leigos. Por isso, acreditamos que a sangha não é composta apenas pelas vestes alaranjadas, mas pelo relacionamento simbiótico dos bhikkhus e bhikkhunis com a população local.


Os monges mantêm vivos os ensinamentos do Buddha, pelo intenso estudo, prática da contemplação e da compaixão para com todos os seres vivos. Os monges, em certa medida, são voluntários em prol de uma causa maior: a sobrevivência das técnicas ensinadas pelo Buddha para colocar fim ao sofrimento. Eles são os técnicos que dominam o código-fonte e o aprimoram.


Os leigos, que suportam a comunidade monástica com doações, fornecem aos monges, além de meios materiais, sua experiência leiga, que indubitavelmente auxilia a reflexão monástica para a aplicação do buddhismo em condições “mais extremas” do que as que presumivelmente se encontram nos monastérios. Em suma, os leigos são os usuários finais do sistema, responsáveis pelo feedback quanto à sua usabilidade e eficiência.


É evidente que nem sempre a vida monástica é mais tranquila do que a dos leigos, mas é inegável que as condições para a prática tendem a ser mais favoráveis dentro do mosteiro.


O Buddha nunca cobrou por seus ensinamentos, por mais precisos que eles fossem. Sempre os transmitiu gratuitamente, a quem quisesse recebê-los, fornecendo o suporte necessário para o desenvolvimento de monges e leigos que o seguiam. Aliás, a ideia de direitos autorais sequer existia em seu tempo.


Mas, por que o Buddha agiu assim? Teria sido apenas pela grande compaixão a todos os seres vivos? Acreditamos que não. O Buddha anteviu que a filosofia GPL (2), utilizada pelos softwares de código aberto, conferiria ao dhamma uma sobrevida muito maior.


Obviamente, se o Buddha tivesse implementado um sistema de licenciamento de seus ensinamentos, cobrando por sua utilização e manutenção, à moda do que hoje acontece com o software proprietário, certamente o dhamma já teria se perdido e hoje não teríamos conhecimento do caminho para a iluminação.


O Buddhismo ensina a ideia de interdependência. Todos os seres vivos estão interconectados, não existindo um “eu” permanente e imutável. Esse conceito é idêntico às práticas da comunidade do software livre. Um dos maiores exemplos disso é Ubuntu, nome de uma das mais famosas distribuições do Linux. Ubuntu significa: “eu sou o que sou pelo que nós somos”.


O Buddhismo é open source (código aberto) porque ele não foi criado com o intuito de controlar as pessoas ou impor que elas têm que seguir seus ensinamentos ou neles acreditar. Esse caráter adogmático significa que o Buddha não exauriu as técnicas de iluminação. Vários seguidores, monges e leigos, ao longo dos séculos, aprimoraram a obra do Buddha, criando novas técnicas e trazendo à baila reflexões buddhistas sobre as questões éticas do seu tempo.


O open source é muito diferente do que um programa freeware. Este apenas permite que o usuário utilize o programa sem pagar pelas licenças. Já aquele permite ao usuário o acesso a todos os detalhes de programação (código-fonte), a possibilidade de utilizá-lo gratuitamente, aprimorá-lo e distribuir livremente a terceiros.


É claro que existe um núcleo central, um verdadeiro kernel, que não pode ser mudado. Não se concebe um Buddhismo que não pregue a compaixão para com os outros seres vivos e/ou a crença de que o sofrimento não possa ser superado.


Mas é inegável que o Buddhismo se amoldou às várias culturas com as quais se deparou, adaptando-se às condições de cada local. Por isso, assim como o Linux, o Buddhismo possui várias distros: Mahayanas, Theravadas e Tibetanos.


Na mesma linha da filosofia do software livre, o Buddhismo convida as pessoas a entenderem o funcionamento do sistema, a origem e o fim do sofrimento, tomando uma postura ativa na construção e manutenção da comunidade.


O exemplo do Buddha nos inspira, como buddhistas e decifradores, a continuarmos explorando o código-fonte do nosso mundo e compartilhando nossas descobertas com todos os seres vivos.


Desde o início do século, empresas brasileiras de informática (como a filial Microsoft do Brasil) usam o substantivo decifrador em respeito à língua lusófona.” Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacker
Em termos gerais, a GPL baseia-se em 4 liberdades:

  1. A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº 0)
  2. A liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nº 1). O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
  3. A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº 2).
  4. A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie deles (liberdade nº 3). O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.” Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/GNU_General_Public_License
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3 comentários em “O Primeiro Hacker”

  1. Pingback: Budismo, Hackers e OpenSource « Olhar Budista

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