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Lendo o Buddhismo com olhos bíblicos


A cultura ocidental aprendeu a ler textos espirituais a partir da Bíblia. Não que todos a leiam da mesma maneira – muito pelo contrário. Lutamos guerras longas e sangrentas sobre o assunto. Entretanto, a maior parte das diferenças de leitura reside dentro de uma pequena constelação de ideias sobre autoridade e obrigação, sentido e mistério, e o propósito da história e do tempo. E mesmo que essas ideias tenham se desenvolvido a partir das peculiaridades da Bíblia e da história do Ocidente, nós as consideramos como perfeitamente naturais, e em alguns casos mais que naturais: modernas. Elas estão tão entranhadas em nossa estrutura mental que, quando as pessoas se rebelam contra a autoridade da Bíblia, suas noções de rebelião e autoridade frequentemente derivam da tradição contra a qual eles estão se rebelando.

Por exemplo, o modo como lemos o Cânone Pāli foi amplamente influenciado por atitudes modernas em relação à Bíblia que remontam ao Romantismo Alemão e aos transcendentalistas norte-americanos – especialmente Ralph Waldo Emerson. Mesmo que esses autores raramente sejam lidos fora das aulas de literatura e história, suas ideias permeiam nossa cultura através de sua influência na psicologia humanista, espiritualidade liberal e no estudo de religiões comparadas: portais a partir dos quais muitos de nós primeiro encontramos as religiões de outras culturas. A questão é: estas ideias fazem justiça ao Cânone Pāli? Tiramos o máximo do Cânone se o lermos dessa maneira? Raramente fazemos estas perguntas, pois nossos hábitos de leitura nos são invisíveis. Precisamos ver com novos olhos tais hábitos, perceber sua estranheza. E um bom modo de fazer isso é perceber as particularidades históricas das quais tais hábitos emergiram e os pressupostos silenciosos por trás delas “.

Passagem de um excelente artigo de Ajahn Thanissaro, em breve no site do Nalanda.