Nestas horas que antecedem o inicio do maior encontro mundial de buddhistas, encontro que ocorrerá esta semana na Thailândia (e para o qual aqui estamos a fim de apresentar um trabalho), é oportuno refletir um pouco sobre o papel do grupo de apoio em nossas vidas. Para todos aqueles que estejam engajados num caminho de entendimento das realidades essenciais da existência, o grupo (variadamente chamado de sangha, igreja, congregação, etc.) assume um papel de suporte e orientação que não podemos diminuir. Estar junto dos pares, daqueles que acreditam nas mesmas coisas e se esforçam na mesma direção é um trabalho de anos. Porque antes de ‘estar junto’ é preciso ‘encontrar’, e isso não é tão fácil quanto possa parecer. Não se trata de simplesmente visitar este ou aquele grupo que anuncia ser buddhista, cristão ou qual seja a denominação, religiosa ou não, na qual você colocou suas fichas.
A palavra tradicional utilizada para expressar a característica ideal do grupo de apoio é “supatipanno”, “aqueles que praticam bem”. Visão e ação andam juntas na prática ideal. A visão nos dá direção de propósito, informando (dando forma) às ideias, orientações e mapas da existência. Visão ou compreensão correta é o primeiro dos fatores do Caminho Óctuplo, e um primeiro esforço é no sentido de encontrarmos aqueles que não apenas partilham de nossas ideias, mas, ainda mais importante, podem nos guiar a tê-las corretas e sabiamente. Porque não basta termos amigos no caminho, pessoas que andem conosco, desbravando e se esforçando juntos, mas necessário se faz que sejam também sábias, que nos orientem, que nos apontem nossos julgamentos mal feitos, nossa lentidão ou nossa ansiedade. Não precisamos apenas de amigos no caminho, mas de ‘bons amigos’. Aqueles que por sua prática ou compreensão inspiram em nós o respeito suficiente para pararmos e ouvirmos o que têm a dizer.
Na outra ponta oposta à visão ou compreensão está a ação ou praxis correta. Isso implica que o bom amigo nos aponta para características da “boa” prática: a prática que incentiva o entendimento, a vigilância, a amorosidade, a equanimidade.
Esse bom amigo tem várias faces. Uns nos motivam pela profundidade de sua compreensão, outros por sua evidente bondade, uns por sua dedicação altruísta, outros por sua capacidade incansável de trabalho pelo Dhamma. Tais características não precisam estar na mesma pessoa. Mas precisamos um pouco de cada uma delas naqueles com quem escolhemos estar.
É nessa conjunção e convivência com pessoas que de um modo ou outro nos são inspiradoras que encontramos um primeiro refúgio em relação ao caos samsarico. Trilhar sozinho no caminho não é fácil. Ainda que não impossível, no mais das vezes o individualismo leva nossa determinação no caminho, mais cedo ou mais tarde, ceder e se esvair.