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Por uma Terra Sem Mal

Repassando uma mensagem fundamental. Para divulgar, divulgar, divulgar:
Caríssimos Irmãos no Dharma, Reverendos, mestres, professores, amigos

Peço desculpas pelo inusitado do assunto. 

Como mencionado no assunto do e-mail, quero apresentar aqui a situação dos índios Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, especificamente as comunidades alojadas nas áreas sob risco de “reintegração de posse”. Acredito que todos já sabem do que se trata, mas resumo: devido ao galopante aumento de terras para produção de álcool combustível, as comunidades indígenas vêm sendo expulsas de terras já devidamente e legalmente demarcadas como suas áreas. Nos últimos 10 anos, mais de 200 lideranças indígenas foram mortas por conta desse conflito, e inúmeros outros feridos e mortos constam ainda como baixas de uma guerra a que não damos a devida atenção.

Há poucos dias, uma reunião dessas comunidades declarou, em carta pública, que as decisões do poder judiciário do MS estão direta e objetivamente causando a morte dos índios. A solução degradante e absolutamente chocante que os indígenas encontraram para se expressar foi, através dessa carta, declarar seu futuro e evidente etnocídio. O link com a matéria segue aqui: http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/cotidiano/2652-guarani-kaiowa-lutam-contra-a-violencia-no-ms

Sinto-me bastante e diretamente afetado pela situação. O descaso público, a hipocrisia institucional de nosso Estado (que permite a morte de centenas de índios reais e que, ao mesmo tempo, fantasia dançarinos com cocares de neon e os envia às Olimpíadas de Londres), a impotência frente a isso têm marcado, nos últimos dias, um traço bastante forte em qualquer compaixão que eu possua.

Faço um apelo ao Dharma, à Sangha e a todos os Budas das dez direções: não deixemos esse episódio passar despercebido. Não consigo pensar em nenhuma solução para o problema, mas estou certo de que se todos nós agirmos com compaixão, se passarmos as informações desse caso para outros praticantes, outros monges, outras organizações, talvez possamos colaborar com o fortalecimento de uma opinião pública. Talvez até possamos pensar na organização de ações diretas, declarações diretas de nossa parte. Não bastassem as violações quanto às posses tradicionais da terra, temos a morte anunciada de muitos seres humanos, sencientes, sensíveis e fragilizados pelas condições.

Se o budismo é crítico, engajado, humanista, quero crer com todo meu coração que ele – nós – estenderemos a mão para auxiliar os irmãos Kaiowá, e todos os irmãos e seres sempre que as condições surgirem. Pelos acontecimentos dos últimos dias, as condições de agora são as mais urgentes.

Queremos uma Terra Pura no mundo. Os Guarani querem a Terra Sem Mal. Sempre notei isso, mas nesse momento, mais do que nunca, sei que essas duas são uma Terra só.

Com mãos em prece, atenção plena e compaixão infinita


Leandro Durazzo

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Gostaria de acrescentar que há interessantes semelhanças entre a Terra Sem Mal dos índios brasileiros e a Terra Pura do Buddhismo. Ambas “aparecem” num momento de crise, quando “as águas iam engolindo a terra”, e lá “as plantas nascem por si próprias, a mandioca já vem transformada em farinha e a caça chega morta aos pés dos caçadores”. Podemos ver a semelhança com a Terra Pura de Amitabha onde o vento nas árvores e o canto dos pássaros cantam o dharma e todas as condições favoráveis surgem para esperar o praticante e prepará-lo para a jornada final.

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