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Ângulos Privilegiados

As Quatro Nobres Verdades declaradas pelo Buddha são chamadas de “verdades” e, supostamente, “verdades” deveriam ser coisas evidentes. Afinal, se é verdade, isso deve ser passível de ser visto por qualquer um, em qualquer lugar, e em qualquer tempo. Porque verdade, para ser realmente verdade, não pode ser dependente da geografia (ou da cartografia estelar) nem do tempo (na verdade nem precisaria haver homens numa tal época, ou seja, no tempo dos dinossauros a verdade continuaria lá). Ou seja, a verdade não evolui (desculpe evolucionistas que tentam aplicar a “evolução” a qualquer coisa que lhes passe pela cabeça). No passado remoto, como daqui bilhões de anos, se algo é verdade, continuará sendo. Também não há uma cultura ou região na terra (ou fora dela, em algum galáxia ou plano superior) que é mais privilegiada a esse respeito. Bolas, a coisa é verdade, então está lá, evidente, para todos verem! Na caverna remota como nas ruas de São Paulo, lá estaria ela escancarada.

Mas, aí nos vem a pergunta: “Se assim é com a verdade, por que a maioria de nós não a vê?” Que coisa é essa que ela precisa ser revelada, descoberta, ou o que mais, para que nós, ignorantes, sejamos informados de sua existência? Por que é até mesmo dito que é preciso ter surgido um Buddha para declará-la a nós? Como algo tão evidente e onipresente no tempo e no espaço, pode ser tão fugidio? Afinal, a coisa é verdade, não é?

Mas, e se o mundo devesse ser olhado pelo ângulo certo? Se o ângulo importasse, se o mundo (incluindo nisso nós mesmos) pudesse ser visto de mais de uma forma, apenas algumas delas reveladores de aspectos que o ângulo mais comum os obscurecesse? “Espera aí! Você está dizendo que o mundo que vejo pode não ser o mesmo que o das outras pessoas? E que isso tem a ver com o jeito como o vejo?”

Diante de cada paisagem, de cada mirada, de cada experiência externa e interna, há ângulos privilegiados. Nem todas as formas de ver têm o mesmo peso, e algumas revelam mais que as outras. Há, na vida, ângulos mais “perfeitos”, mais “áureos”. As verdades de qualquer espécie podem estar lá, mas devemos, nós mesmos, nos colocarmos no ponto de vista correto para vê-las; e talvez esse ângulo tenha que ser exato para revelar o que é realmente importante. Isso pode implicar que também haja pessoas que podem melhor nos ajudar a descobri-lo, que ângulos possam ser transmitidos (ainda que só você mesmo se posicionando neles fará com que também veja o que há para ser visto), e que mesmo em coisas tão simples pode haver alguma coisa mais especial que você não está vendo.

 
Por vezes o ângulo certo nos revela a verdade simples
de que a impermanência está onde menos esperamos
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