Entenda! |
Em nossa tradição pāli uma medida de como é importante o conhecimento vivencial é mostrada pela própria quantidade de palavras em pāli que se relacionam com conhecimento. Por exemplo, temos viññāṇa que é traduzido como consciência. É um dos cinco componentes básicos da mente. É a capacidade que a mente tem de reconhecer algo tão logo toque naquilo. A mente se torna consciente. Somos seres conscientes, que é uma característica dos seres vivos e do ser humano, diferentemente da pedra que talvez não tenha aquele tipo de consciência da experiência, do espaço e do tempo.
Um segundo componente da experiência mental é saññā que também tem o mesmo sentido de conhecimento. Enquanto que viññāṇa é esse estar consciente, saññā tem o sentido de perceber de uma forma mais categorizante, de uma forma que você sabe o que é isso ou o que é aquilo. Você pode reconhecer, por exemplo, quais as cores da parede ou da sua camisa. É um tipo de conhecimento também limitado, mas é um conhecimento que classifica as coisas.
Um terceiro componente dos estados mentais é vedanā. Juntamente com os dois primeiros, mais rūpa, a forma corporal, e saṅkhāra, as atividades volitivas, formam aquilo que é chamado de os Cinco Agregados. Vedanā também significa conhecimento. A raiz ‘ved’ significa conhecer, tanto que as escrituras hindus chamam-se Vedas. Vedanā é um tipo de conhecimento que vem por meio de como sentimos as coisas. A palavra mostra como a própria psicologia buddhista classifica os vários componentes do ser humano sob o ponto de vista do conhecer. Ela propõe o ser humano como um ser que se torna consciente, que conhece ao classificar coisas e ideias, que conhece quando sente as coisas.
Quando tais conhecimentos são sábios e profundos, de acordo com a realidade, então, ele é chamado de paññā, que faz parte da mesma família linguística de viññāṇa e saññā. Paññā é sabedoria, um tipo de conhecimento que é profundo, que não fica na superfície. Enquanto alguns conhecimentos são superficiais, outros realmente falam sobre alguma característica universal da realidade. É isso que buscamos. É por isso que paññā, ou em sânscrito prajnā, é tão importante. A sabedoria é um tipo de conhecimento que alimenta. Quando há sabedoria, existe uma satisfação que é semelhante ou análoga àquela satisfação que vem quando diante de um prato gostoso de alimento. Ela satisfaz o coração. E se esse é um conhecimento que não apenas é sábio, mas também é transcendente, atingindo o mais profundo da realidade, então ele recebe outro nome que é aññā. Aññā é o conhecimento dos arahants e dos Buddhas. É aquele conhecimento último a respeito da realidade das coisas.
Excelente artigo!
Maravilha, professor.
Esta a esfera onde se dá a libertação, me parece, Não se é livre no agir, no pensar ou no falar, mas no conhecer.
Não é possível comentar.