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Para cada sentido e para cada momento

Outra palavra importante em nossa tradição e que tem a ver com conhecimento é vipassanā. Passanā significa ver. Ver é um tipo de conhecimento. Na verdade, podemos falar que cada um dos cinco sentidos nos confere um tipo diferente de conhecimento. De forma sábia podemos extrair conhecimento de cada um dos sentidos. Pessoas diferentes até mesmo têm diferentes proporções no modo como extraem conhecimentos dos vários sentidos. Alguns são mais visuais, outros mais auditivos, outros ainda mais corporais. Quando uma cultura provê um excesso de informação visual, ou seja, de conhecimentos que vêm através do olho, podemos perguntar quanto da realidade total que estamos perdendo? Quantas coisas que podem vir da via olfativa ou gustativa e que você simplesmente ignora ou toma como sendo um conhecimento comum? No entanto, cheiros e aromas têm uma via direta de conhecimento. Por exemplo, o cheiro é o único dos sentidos que vai direto para o hipotálamo, não passando por outras áreas do córtex. Ele atinge áreas cerebrais que guardam coisas bem mais instintivas e profundas que não passam por todo o processo de elaboração racional e isso vem através dos vários cheiros, só que você não percebe isso. Você perde esse tipo de experiência. E quantas coisas podem ser aprendidas pelo conhecimento tátil?

Cada um dos sentidos traz um conhecimento diferente e você pode aprender com eles. Então quando usamos a palavra passanā como verbo comum, ela significa ver e o conhecimento que vem do ver. Quando colocamos o prefixo vi na frente de passanā, temos algo um pouco diferente. Vi significa ‘de uma forma peculiar’, ‘de uma forma diferente’. Vipassanā significa ‘ver as coisas de uma forma diferente’. Aqui já não é mais a visão que vem através dos olhos. Qual é esse tipo de visão que você pode ter? Vipassanā é o como podemos desenvolver um modo diferente de ver as coisas, e é por isso que muitas vezes essa palavra é identificada com a própria prática da meditação buddhista.

Enquanto que temos várias formas de conhecer provenientes de cada um dos sentidos, há também uma forma apropriada de conhecimento a cada momento. A realidade nos oferece vários tipos de vivências. Qual é a forma que devo utilizar mais conveniente ou apropriada segundo as circunstâncias? No caso dos sentidos corporais, talvez diante de um objeto gustativo, o conhecimento visual tenha sua importância, mas não lhe dá a experiência mais completa. A cada momento devemos nos perguntar sobre qual é a forma apropriada de conhecer. Na vida temos uma série de experiências que vem através de outras pessoas, de situações de vida, mas somos meio cabeças duras. Diante das experiências pensamos que é ‘isto’ que está acontecendo, e é ‘isto’ o que devo fazer. Mas nem sempre isso é verdade. Nem sempre é mesmo necessário fazer algo. Como somos uma sociedade muito voltada à ação, parece-nos que a cada coisa que acontece, temos que ter uma reação a seu respeito. Isso cria um excesso de angústia e preocupação muito grande. E quanto mais agitada é a sua vida, quanto mais contatos você tem, quanto mais experiências, quanto mais estímulos, mais angustiado você fica. Se a cada experiência você pensa que deve dar uma resposta, mais angustiado você vai ficando porque você acha que sempre tem que agir. Mas em várias coisas na vida não é preciso agir, mas sim, contemplar. Outras experiências são para serem refletidas, outras para não se fazer nada, outras para serem sentidas, sem necessidade de tomar alguma providência a respeito. A cada momento de sua vida você tem experiências que certamente são interessantes, que certamente podem lhe trazer algum tipo de conhecimento e, quem sabe, conhecimento ligado com a sabedoria, mas ela só pode lhes dar isso se souber qual é o instrumento apropriado para lidar com aquela experiência.

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