As escolas da Terra Pura apresentam um Buddhismo bem diferente daquele que praticantes de outras escolas buddhistas estão acostumados. Dentre elas, a japonesa Jodoshin-shu é talvez a maior. Pode ser de proveito conhecê-la em mais detalhe, pois traz diversos elementos interessantes. Um deles é sua ênfase essencial no ouvir o Dharma. Esse ouvir deve se originar “de um coração queimando por ouvir”. Gosto dessa expressão, pois mostra tão claramente como deve ser nosso engajamento com o Caminho. O Buddha, já nas escrituras antigas, dizia que ouvir o Dharma era o começo do caminho, e que isso deveria ser feito como alguém que estivesse querendo escapar de um afogamento. O desejo em ouvir é algo que precisa certamente ser encorajado em todas as comunidades buddhistas brasileiras.
O documentário Streams of Light – Shin Buddhism in America, que pode ser visto integralmente neste link, mostra o desenvolvimento do Jodoshin-shu nos EUA, através de várias gerações. É uma grande lição de história, sobre as dificuldades e os obstáculos superados por comunidades asiáticas em sua por vezes difícil adaptação aos ambientes ocidentais.
Ainda que majoritariamente muito restrito até hoje às comunidades de imigrantes japoneses e veiculado em grande parte em língua japonesa, gradualmente esta significativa escola buddhista do Extremo Oriente vai abrindo também caminho por meio de representantes brasileiros e veiculando os ensinamentos em português aqui no Brasil. O documentário revela muitas coisas que o Buddhismo brasileiro ainda tem para aprender. É notável que a Buddhist Churches of America, já há décadas, abriu espaço para uma livraria veiculando não apenas os livros exclusivos de sua escola, mas de todas as denominações buddhistas, algo que ainda hoje no Brasil é difícil de encontrar nos grupos e centros buddhistas.
Outro ponto importante trazido pela reflexão Jodoshin é o de revelar a obsessão que muitos podem ter em querer controlar a própria prática espiritual. É muito sutil como o ego controlador pode ir assumindo as áreas de aquisição do conhecimento ou da meditação. Esse é um cuidado muito importante que todos os praticantes podem aprender a cultivar.
O modo como vejo o Buddhismo no Brasil, ou em qualquer país ocidental, é de um grande experimento. Todos os grupos, formais e informais, realizam um experimento de descoberta sobre o que poderá funcionar em nosso solo. Cada grupo, pequeno ou grande, experimenta formatos, abordagens, ênfases, e ninguém sabe realmente ao certo o que funcionará, pois este “funcionar” não é medido em números, mas em real desenvolvimento interior daqueles que neles participam.
Vale à pena revisarem o penúltimo parágrafo desse artigo. Onde diz: “…é o de revelar a obsessão que muito podem ter em querer controlar a própria prática espiritual.” Fica melhor: “..é o de revelar a obsessão que muitos podem ter em querer controlar a própria prática espiritual.”
Vale à pena, ainda, um aprofundamento nesse ponto sobre “a comum obsessão de controle da prática espiritual e a Escola Shin”. Talvez não nesse artigo, mas num artigo novo.
Grato pela atenção.
Obrigado Bruno! Corrigido.
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