Num livro presente no Cânone Pāli da tradição Theravāda há um verso do Buddha que diz: Kāmesu giddhā pasutā pamūḷhā, avadāniyā te visame niviṭṭhā; Dukkhūpanītā paridevayanti, kiṃsū bhavissāma ito cutāse. ~ Suttanipata 774
Que na minha tradução fica assim: “Os que são cobiçosos engajam-se e ficam apaixonados por prazeres sensoriais. Seguem o caminho instável. Neste estado miserável, eles se lamentam: ‘O que nos acontecerá após a morte?’”
A palavra visama (vi+sama) é aquilo que não é harmonioso, plano, igual. Ela implica aquele tipo de desequilíbrio que nos tira da paz de espírito que tanto ansiamos. O que não é harmonioso, é sofrimento. O Buddha aqui está dizendo que a dominação pelos prazeres torna o homem desequilibrado, seu caminho é instável e desarmônico. Prazeres podem ser buscados em vários lugares. O mais comum deles são os prazeres que vêm dos sentidos. Mas não são os únicos. Até mesmo nossa busca espiritual pode estar influenciada por esta busca constante pelo agradável.
Visama também significa o caminho errado, contrário ao Dhamma (tanto no sentido de ‘ensinamento do Buddha’ quanto no de ‘natureza das coisas’). Assim instáveis, as pessoas sofrem (dukkha) e temem a morte, pois ela pode representar o fim do prazer. Dá para vislumbrar porque temos tanto medo da morte? Alguns escolhem o caminho de ignorar o fato da morte, outros se tornam ansiosos, tomam remédios e mal conseguem dormir diante dos pensamentos de perda e insegurança; e outros, ainda, optam por seitas e doutrinas que lhes assegurem que, no pós-morte, haverá a continuação dos prazeres experimentados nesta vida. Você já escolheu o caminho que seguirá?