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A morte é um dia que vale a pena viver

A morte é um dia que vale a pena viver
A morte é um dia que vale a pena viver

O professor Godwin Samararatne já havia dito que a morte é a coisa mais certa. Ele disse: “A morte é a coisa mais certa na vida, e o que é lamentável é que nós nos esquececemos da coisa mais certa na vida e nos envolvemos em outras coisas que são incertas“. Este não esquecimento vale a pena ser enfatizado, pois dele vem novas formas de ver a vida e nela nos comportarmos. Não nos esquecermos significa também olhar os outros de outro modo, não como seres inteiros, completos, prontos, mas seres em processo, fazendo-se.

Um dos próximos livros que vamos publicar trata da morte e do morrer do ponto de vista buddhista. Não é um livro técnico, mas um livro humano. Seu autor, um ex-monge de vários anos, coloca o lado humano do morrer. Ele trata do cuidado com quem vai morrer, com aqueles que ficaram, das suas impressões sobre funerais buddhistas e suas experiências como monge.

Nossa abordagem, então, é reconhecer e observar nosso estado mental pesaroso. Por meio da vigilância e da reflexão sábia, podemos conter nosso pesar e ficarmos calmos. Vigilância e entendimento é o caminho do meio e o caminho melhor – não envolve nem supressão nem entregar-se às emoções negativas e destrutivas. Vigilância é o reconhecimento e a observação, a partir dos quais surge entendimento, aceitação, reconciliação e sabedoria. Não negamos ou suprimimos nossas emoções. Reconhecemos e observamos nossas emoções.

Em tal reconhecimento e observação, podemos melhor enfrentar a turbulência e o conflito que podem estar ocorrendo em nossa mente. Podemos exercitar a reflexão sábia sobre a natureza da impermanência, do sofrimento e do não-eu. Podemos aprender com a sabedoria dos antigos e, assim, fazer as pazes com nosso pesar. Em outras palavras, a sabedoria pode surgir. Podemos entender e aceitar nosso pesar. E ele não controlará nossa mente ou nos conquistará. Isso é o que queremos dizer quando dizemos que a gentil aplicação da vigilância leva a um entendimento e autocontrole“.

Nossa amiga Rosana B. nos enviou um ótimo vídeo, “A morte é um dia que vale a pena viver”. Vale muito a pena ver. A médica Ana Claudia Quintana Arantes mostra o lado humano que o médico pode desenvolver ao lidar com a morte. Ana Cláudia fala de cuidado, de amorosidade (metta! [1]), perdão e sabedoria para estes últimos momentos.

[1] Para o Ven. Dhammasami, “Mettā é uma bondade (empatia e boa vontade para com os demais) mediante a qual se deseja o bem-estar dos seres”.

 

Matthieu RicardE para nossos leitores de Portugal, fica a dica: o lama Matthieu Ricard estará em Portugal no começo de maio, com palestras em Lisboa e no Porto. Deem uma checada. Encontrei-o em 2008, no Vietnam, muito simpático. Aqui uma entrevista indicada pelo Jorge F. “A felicidade egoísta está condenada ao fracasso“. Ele estará em Portugal para falar de “altruísmo”: “Um dos maiores desafios da atualidade consiste em conciliar os imperativos da economia, da procura da felicidade e do respeito pelo ambiente. A economia e a finança evoluem a um ritmo cada vez mais rápido; a satisfação de vida mede-se com base num pro­jeto assente numa carreira, numa família, numa geração; e o am­biente, que tradicionalmente se media em eras geológicas, está, hoje, devido aos transtornos ecológicos provocados pelas ativi­dades humanas, em rápida mudança. Precisamos de um fio de Ariana que nos permita encontrar o caminho neste labirinto de preocupações graves e complexas. O altruísmo é o fio que nos po­de permitir ligar naturalmente as três escalas de tempo – curto, médio e longo prazo – harmonizando as suas exigências“.

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