Achei excelente a manifestação de Andre Dōshim Halaw, e resolvi traduzir. Um chamado corajoso para a comunidade buddhista de todo o mundo. E vocês, o que acham?
“Nas últimas semanas tenho estado sentado mudo de horror vendo o número de mortes crescer em Gaza. Civis sendo assassinados por morteiros. Sinto-me fisicamente doente com o conhecimento de que meus dólares de impostos sustentam essa atrocidade, e que meu governo apenas se senta passivamente devido a alianças políticas antigas, enquanto que apoia essa ação desumana.
Apesar do compromisso unânime do Buddhismo em relação aos temas da paz e da não-violência, vejo pouca reação vinda da comunidade buddhista ocidental. Não entendo isso de modo algum. Algum argumentam que o Buddhismo deveria permanecer apolítico, dedicado apenas a ajudar as pessoas a se despertarem; que sua influência não se estende (ou não deveria se estender) à esfera da política.
Vejo isso como um luxo de pessoas que vivem em um país não imediatamente ameaçado pela própria violência que ele aprova. É a indiferença disfarçada de equanimidade, preguiça disfarçada de sabedoria.
Mesmo grupos Zen dedicados a promover a paz sentam-se ociosamente, mudos como estátuas do Buddha, mais preocupados com retiros de meditação sentada do que com se manifestarem a respeito da grosseira violação dos direitos humanos e do massacre em massa ocorrendo em Gaza.
Pessoas inocentes estão sendo assassinadas. Escolas e hospitais estão sendo bombardeados, como isso é possível!
Onde está o sentimento de escândalo na comunidade buddhista ocidental? Por que os seguidores do Buddha – um homem que literalmente sentou-se no trajeto de um exército de maneira a impedir uma guerra! – estão silenciosos a esse respeito? Por que estamos mais interessados em retiros Zen de meditação realizados nos locais da Segunda Guerra Mundial ao invés de prevenis as mortes ainda mais sem sentido que ocorrem neste próprio momento?
Essas são questões importantes que precisam ser avaliadas. Se o Buddhismo ocidental, agora em seu estágio infantil, atingirá o amadurecimento, ele deve transcender sua própria preocupação consigo mesmo e se dirigir às necessidades do mundo.
Pessoas inocentes estão sendo mortos com dólares de impostos americanos. O tempo para silenciar acabou. Já meditamos o suficiente. Agora é a hora de agir”.
Publicado por Andre Doshim Halaw às10:43 AM em http://originalmindzen.blogspot.com.br/2014/08/horror-in-gaza.html
Traduzido por Dhanapala
Concordo com o autor que existe uma certa postura, tida como buddhista, que é lamentável e devida ao mal entendimento. Mal entendimento que, me parece, tem raízes em fatores insalubres sendo a preguiça talvez o principal deles.
O buddhismo pode ser uma religião muito confortável se praticada da forma que, me parece, o Buddha nunca ensinou. A imagem do sábio que levita sobre o mundo com aquelas sobrancelhas arqueadas parece cativante para muitos buddhistas. O Buddha interessa a poucos.
Como interessa a poucos compreender a vida, o que é o mesmo que compreender a si mesmo. Ao surgir uma situação de extrema calamidade como esta de Gaza, ficamos de boca aberta, apavorados, como se fosse algo surpreendente, como se fosse algo estranhamente surgido num mundo belo e harmonioso, transbordando de paz e felicidade.
Essa reação mesma, se vem de parte de um buddhista, já demonstra, me parece, que ele está meio que sentado no caminho, encantado com alguma coisa…
O Caminho do Buddha leva a um ponto de vista, a uma perspectiva, que nos revela no centro da própria fermentação destas situações extremas. A desgraça em Gaza não é coisa de outra realidade. O escândalo de que o texto sente falta com respeito à Gaza, é porque o escândalo com respeito à vida, ponto vital do Caminho do Buddha, não interessa à maioria dos que se dizem buddhistas.
Não há necessidade de clamar por engajamento daquele buddhista que se escandaliza com as microGazas que ocorrem ao seu redor (e em si mesmo) diuturnamente e contra elas se opõe.
É de extrema importância que líderes do mundo buddhista se posicionem publicamente com respeito à Israel e sua política de extermínio patrocinada pelo Norte. Mas, para buddhistas, se isso não for compreendido em profundidade, não passará de mais encenação num samsaricar orgulhoso e engajado.
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