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Nasce o Theravada

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Algumas das pessoas que chegam a este blog já leram um artigo meu em que explico um pouco das diferenças e variedades das escolas buddhistas existentes. O artigo se chama “A Que Escola Pertenço?” e pode ser lido ao clicar no link que está no título. Desde que foi publicado há vários anos, o artigo tem sido amplamente divulgado como uma ótima introdução às escolas buddhistas que pode facilitar para o iniciante se localizar neste vasto emaranhado. O artigo, porém, é apenas uma breve introdução a um mundo inteiro imensamente variado e complexo. No decorrer dos anos, inúmeros enganos a respeito das escolas buddhistas foram se acumulando, tanto devido às escolas terem uma visão imprecisa umas em relações às outras, como entre os praticantes das próprias escolas que nutrem visões preconceituosas, parciais ou iludidas em relação ao que praticam. Vejamos aqui os começos de uma das escolas citadas no artigo, aquela chamada de Theravāda, seus ensinamentos, práticas e sobre aquilo que ela se diferencia das demais escolas buddhistas.

O Buddha, em seus 45 anos de ministério, teve o tempo e a dedicação de transmitir muitos ensinamentos. Ainda em vida, esses ensinamentos começaram a ser guardados na memória de seus ouvintes e alunos mais próximos e, após a sua morte, passaram a ser transmitidos oralmente, geração a geração. Apesar de a data precisa em que Buddha viveu ser ainda matéria controversa, sabemos que o imperador Asoka, uma figura de grande importância para todo o Buddhismo, foi coroado em 268 a.C., e que entre a morte do Buddha e o coroamento de Asoka, a comunidade monástica iniciada pelo Buddha se dividiu em pelo menos dois grandes grupos. As razões exatas dessa divisão também são complexas, mas é possível dizer que senão a própria causa, pelo menos as consequências da divisão foram uma diferenciação progressiva em termos de aplicação das regras monásticas e da interpretação doutrinal.

Os dois grandes grupos originados dessa divisão são conhecidos como Sthaviravādas e Mahāsaṁghikas, cada qual declarando guardar os ensinamentos originais do Buddha. E pode bem ser que na ocasião da divisão eles realmente fossem bem parecidos, com apenas algumas poucas diferenças de cunho legalista em relação às regras monásticas, ou seja, algo de maior importância para monges do que para a população leiga que passava a se interessar pelos ensinamentos do Buddha. Com o tempo, o ramo Sthaviravāda se dividiu em 11 diferentes escolas, enquanto o ramo Mahāsaṁghika se dividiu em 7; e essa variedade de agrupamentos monásticos se espalhou por todas as regiões do que hoje chamamos de Índia.

Asoka, como falei, teve uma grande importância para o Buddhismo, pois foi por meio de sua patronagem que o Buddhismo recebeu apoio para crescer. Com seu incentivo, missões de monges foram enviadas para os quatro cantos. Uma dessas missões foi para o sul da Índia, liderada pelo próprio filho de Asoka, um monge arahant chamado Mahinda. Essa missão finalmente fincou bases no extremo sul, numa ilha chamada Sri Lanka. Lá essa tradição passou a ser conhecida pelo nome na língua pāli que era idêntico ao nome indiano do grupo que Mahinda fazia parte, Theravāda (o equivalente de Sthaviravāda). Com o tempo, todas as escolas originais, aquelas 18 escolas mencionadas acima, se extinguiram, com exceção de uma, a tradição levada ao Sri Lanka pelo arahant Mahinda. O Theravāda que se firmou no Sri Lanka é, assim, o único e último representante do Buddhismo mais antigo, a oportunidade mais próxima de entrarmos em contato com o tipo de Buddhismo que foi transmitido e vivido no solo indiano pelo menos pelos primeiros três ou quatro séculos após a morte do Buddha.

PS: Este artigo foi originariamente escrito em .

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