Publicar e oferecer ao leitor brasileiro “Um Sabor de Liberdade” significa para mim uma grande alegria. Em 1987, durante o tempo livre que tinha quando praticava no Providence Zen Center dos EUA, eu costumava frequentar sua biblioteca cheia de livros interessantes. Dentre as dezenas de livros zen, acabei conhecendo dois livros que iriam marcar uma reviravolta em meu caminho buddhista, pois que, até então, meus planos eram de viajar para o Japão, treinar em seus mosteiros e, quem sabe, ir também para a Coreia e a China, seguindo a trilha mahāyāna sobre a qual há muito tempo já me debruçava.
Em meio ao forte treinamento zen coreano, conheci A Taste of Freedom (“Um Sabor de Liberdade”) do mestre theravāda da Tailândia, Ajahn Chah. Em 100 páginas, o venerável mestre conseguiu causar tal impacto que, de súbito, tive a certeza de ter encontrado meu caminho. De repente, tudo fazia sentido: o Buddha estava ali, falando diretamente ao coração. Eu teria que conhecer o Theravāda, o Caminho Transmitido pelos Mais Velhos, compreendê-lo, vivê-lo. Desse primeiro livro, passei para o segundo, “Conhecimento Iluminado”, também de Ajahn Chah, e o propósito se confirmou, me levando a seguir uma rota para o sul da Ásia, na qual se encontrava seu mosteiro. Tive a fortuna de poder estar com ele ainda vivo.
Ajahn Chah tem um estilo único. Ele é profundo e fala direto ao coração; nada de rituais complexos, jargão especializado, acréscimos culturais ou divindades estrangeiras. Ajahn Chah aponta para o que é a prática essencial. Numa das passagens deste livro, ele diz:
“Podemos aprender o Dhamma a partir da natureza, das árvores por exemplo. Uma árvore nasce devido a causas, e cresce seguindo um curso natural. Ao nosso redor uma árvore está a nos ensinar o Dhamma, mas nós não entendemos isso. No devido tempo, ela cresce e cresce até que floresce e frutas vão aparecer. Tudo o que vemos é a aparência das flores e frutas; somos incapazes de trazer isso para dentro de nós e apreciá-lo. Assim, não sabemos que uma árvore nos está a ensinar o Dhamma. A fruta aparece e nós limitamo-nos a comê-la sem investigar: doce, azeda ou salgada, é a natureza da fruta. E isso é o Dhamma: o ensinamento da fruta. Em seguida, as folhas envelhecem. Elas murcham, morrem e caem da árvore. Tudo o que vemos é que as folhas caíram. Pisamos nelas, varremo-las, e é tudo. Não investigamos profundamente e assim não sabemos o que a natureza nos está a ensinar. Mais tarde novas folhas vão surgir e apenas vemos isso sem tirar conclusões. Não trazemos essas coisas para a nossa mente de forma a contemplá-las”.
Aos muitos que ajudaram na preparação da publicação deste livro em língua portuguesa, nosso sincero agradecimento. O grosso da tradução foi feito por nosso Grupo de Tradução do Centro de Estudos Buddhistas Nalanda. A revisão e a edição foram feitas por mim. E expressamos aqui um agradecimento especial ao Venerável Ajahn Pasanno e à Sangha de Ajahn Chah por permitirem a presente tradução e publicação.