A linha reta nem sempre é o melhor caminho entre dois pontos. Já ouvimos isso muitas vezes. O problema da linha reta é que estando no ponto A ficamos tão obcecados com chegar no ponto B que só pensamos nele dali para a frente. Nossa mente reconhece a importância de se chegar no ponto B, a atenção é focada naquele ponto, e tudo o que queremos é chegar nele. Esquecemos o ambiente em torno, esquecemos o terreno.
Quando os pontos A e B são locais físicos isso é muito fácil perceber. Pode ser bem mais fácil dar a volta em uma montanha do que escalá-la e descer pelo outro lado para atingir o ponto B à frente. Mas nem sempre fazemos isso quando os pontos não são físicos. Pensar na tarefa sem pensar no terreno é o que chamamos de obsessão. Thanissaro Bhikkhu demonstra esse princípio na prática da concentração:
“Deixe seu desejo por resultados trabalhar a favor e não contra você. Uma vez estabelecidas as metas, foque não nos resultados, mas nos meios para levá-lo lá. É como construir massa corporal. Você não assopra ar ou injeta proteína no músculo para torná-lo maior. Você foca em realizar seus exercícios corretamente, e o músculo crescerá por si só. Se, ao meditar, você quer que a mente desenvolva mais concentração, não foque na ideia de concentração. Foque em permitir que a respiração seja mais confortável, e então essa respiração, e essa outra, uma de cada vez. A concentração então crescerá sem que você tenha que pensar nisso”.
No foco na respiração devemos olhar para as condições que permitem a sustentação do foco. Se olhamos apenas para a meta da concentração, ficamos obcecados com ela. Perdemos o contexto.
Permitir que a respiração seja mais confortável implica em pensar o que leva a uma respiração assim. O jeito que você senta, as roupas que você usa, a almofada escolhida, e os seus hábitos diários que possam favorecer ou prejudicar sua respiração. Cultive o terreno e o que você plantar nascerá.