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Os Monges… japoneses

Clérigos e clérigas japoneses em speed-dating dentro dos templos

De tempos em tempos vemos surgir iniciativas aqui no Brasil para tentar justificar a atribuição de “monges” para aqueles que passaram por algum treinamento e iniciação no buddhismo japonês. Tais “monges” são diferentes dos outros monges. Eles têm namoradas, se casam, vivem em templos ou em casas próprias com suas famílias, têm seus empregos, salários e cachês, vestem roupas cerimoniais quando dentro de um templo, mas as tiram quando vão passear e se divertir, para tomar cerveja ou ir no cinema ver o último sucesso de Hollywood. E as pessoas continuam perguntando, monges japoneses são diferentes, né?

Geralmente são sempre os mesmos argumentos, do tipo “o Buddha ensinou que as coisas são impermanentes e, portanto, qualquer tipo de mudança é aceitável”, ou “as coisas evoluem conforme as circunstâncias locais e, assim, também o monasticismo mudou”, tirando-se daí a conclusão de que monges se casarem, terem filhos, trabalharem como advogados, empresários, etc., seja parte da “evolução” do monasticismo. É a tentativa de justificar o injustificável e isso é baseado numa série de enganos e falácias a respeito do monasticismo na tradição buddhista.

Vejamos alguns exemplos que “provariam” como o monasticismo evolui no buddhismo e, portanto, que as mudanças que tais pessoas apregoam estariam perfeitamente conformes ao que é apropriado dentro do buddhismo.

1. Na época do Buddha os monges todas as manhãs saíam às ruas para pedir o alimento diário. No entanto, quando o buddhismo se moveu para outras regiões, os monges passaram a plantar e cozinhar, pois mendigar pelo alimento não era bem-visto em algumas dessas regiões, como na China. Isso é apresentado como uma prova de que as regras evoluem.

Esse argumento é curioso vindo de pessoas ligadas ao buddhismo japonês. Elas prontamente admitem que a mendicância é vista como algo honroso e que nunca ninguém se sente humilhado ao fazê-lo no Japão, mas ao mesmo tempo citam um exemplo da China, para justificar o fato de não fazê-lo. Ou seja, cita-se um argumento para justificar a mudança de uma regra, ao mesmo tempo que na situação em pauta tal argumento não se aplica, em outras palavras, um falso argumento.

2. Antigamente os monges eram andarilhos, mas isso só era possível no clima tropical da Índia, o que teria levado os monges a morarem todos juntos em monastérios permanentes ao se acharem em países frios. Isso é apresentado como mais uma prova de que as regras evoluem.

3. Do mesmo modo, ao migrar para regiões frias, o monasticismo acrescentou uma refeição ao anoitecer (devido ao frio, gripes, etc.) ao invés de se manter a regra de se alimentar apenas até o meio-dia. Isso é apresentado como mais uma prova de que as regras evoluem.

Os três exemplos acima apresentam casos em que as regras foram mudadas, justificando assim, segundo tal interpretação, que hoje os “monges” brasileiros ligados ao buddhismo japonês possam continuar mudando as regras e que é perfeitamente normal se autodenominarem de monges, pois apesar de em nada terem em comum com os monges de outras tradições, ainda assim podem se chamar desse modo porque tudo muda, inclusive as regras monásticas.

Esse raciocínio se baseia entretanto em uma grave falácia, e para aqueles que têm um interesse real no buddhismo é importante se guardar em relação a afirmações que simulam uma veracidade baseadas em dados falsos e informações parciais.

Uns dois meses atrás aqui na Índia (onde estou no momento) foi realizada uma grande conferência internacional para discutir o Vinaya nas tradições Theravada e Mulasarvastivada (que rege todas as ordenações monásticas do buddhismo tibetano em todas as linhagens). Monges de vários países do Sudeste Asiático, Índia, Nepal e Tibete compareceram para debater durante dias as duas tradições. Se as regras monásticas fossem tão flexíveis e elásticas quanto querem alguns, tais tipos de congressos não seriam necessários. Questões sobre linhagens monásticas, quem pode ser considerado monge, ressurgimento de ordens, etc., não teriam sentido. Bastaria invocar a ideia de que tudo muda para justificar que qualquer um pudesse se autodenominar “monge” e fundar suas próprias ordens monásticas. A totalidade dos monges tibetanos, theravadas ou chineses não concordam com os brasileiros que pregam tal versão do momasticismo.

O ponto enganador aqui é tratar todas as regras monásticas como iguais, enquanto na verdade as regras monásticas não têm o mesmo peso e não são colocadas indiscriminadamente na mesma categoria. No exemplo 1, mesmo na época do Buddha não era obrigatório para todos os monges saírem para a coleta de alimento, e as diversas ordens monásticas atuais mantêm cozinhas dentro de seus mosteiros. No exemplo 2, também já no tempo do Buddha era comum monges ficarem mais fixos nesse ou naquele mosteiro, como também ocorre hoje, e isso nunca foi considerado mudança na regra. No caso 3, mesmo na tradição theravada, considerada como aquela que mais de perto segue as regras monásticas originais, é permitido algum tipo de alimento a título de medicamento diante de casos especiais de doença e enfraquecimento. Nas tradições de influência mahayana essa última refeição é considerada refeição-medicamento. Ou seja, em nenhum dos três casos citados realmente acontece algo extraordinário.

A falácia do argumento está em tomar essas pequenas modificações de hábitos menores, irrelevantes em si mesmos e nunca tomados como significativos e a partir delas justificar a quebra de regras maiores e, essas sim, consideradas por toda a comunidade monástica de todos os países como regras a não serem quebradas. Monges se engajarem em ato sexual é uma das 4 regras da categoria “parajika”, o mais alto nível de regra a não ser quebrada, e que leva à imediata expulsão da ordem monástica. Aliás, mesmo que o público não venha a descobrir, o monge que assim o faz é considerado como internamente já fora da sangha monástica. Isso é válido para todas as escolas monásticas buddhistas do Sudeste Asiático, Índia, China, Vietnã, Tibete, etc. É como alguém usar o argumento de que ninguém é preso quando pisa em um inseto para justificar não poder ser preso quando mata seu vizinho. Você não pode tomar modificações previstas em regras menores para justificar a completa quebra de votos maiores, ainda mais se tratando dos principais votos. Essa falácia só poderia encontrar aprovação diante de pessoas realmente muito ingênuas ou que tenham outros motivos para se apresentarem de tal maneira, e é surpreendente que ninguém note a tamanha fragilidade da argumentação.

O fato a ser sublinhado aqui é de que isso é um fenômeno exclusivo do buddhismo japonês, e mais particularmente no buddhismo japonês praticado no Brasil. Alguns no Brasil justificam que as regras mudaram no Japão por causa de imposições políticas e perseguições, e que foi por isso que os monges começaram a se casar, por terem sido forçados a tanto. Isso é verdade apenas em parte. E, primeiramente, é preciso você decidir se irá usar o argumento de que monge pode casar porque foi obrigado por lei ou porque isso é parte natural da “evolução” das regras”.

Seja como for, na era Meiji, em 1872, diante do temor em relação ao crescente poder temporal e político das instituições buddhistas, foi promulgada a lei Nikujiku Saitai (肉食妻帯) que permitia aos clérigos (os chamados “monges” aqui no Brasil) comerem carne e também se casarem. A lei apenas tornava não passível de censura e punição aquilo que vários clérigos já vinham praticando mais privadamente. Com a não-punição, as práticas de comer carne e mostrarem publicamente suas esposas foram adoptadas amplamente pelos clérigos do país.  A expectativa de que isso enfraqueceria ainda mais o clero buddhista japonês foi assim amplamente realizada.

Parece absolutamente óbvio que o fato de se querer desmantelar as instituições por meio de permitir o sexo aos monges é porque de fato isso implica claramente os monges serem automaticamente considerados como fora do monasticismo. Entretanto, o argumento de alguns por aqui é de que isso levou a uma evolução do monasticismo, agora com monges casados, vivendo em suas próprias casas, com profissões pessoais, esposa, filhos e visitas ao parque de diversões, o que significa que não entenderam nada sobre o que é o monasticismo no buddhismo. Além disso, nos tempos atuais, nada impediria os pobres “monges” que foram obrigados a praticarem sexo, se reordenarem em qualquer ordem de verdadeiros monges, se realmente fosse monges o que quisessem ser. Ou seja, tudo isso é uma excelente maneira de continuarem tendo uma vida de leigos porém com o status de “monges” frente ao público ingênuo.

Mas isso tudo ainda aponta apenas uma pequena parte da verdade. Monges serem liberados a se casarem por decisão política do imperador foi apenas a gota d´água de um processo muito mais antigo. O Vinaya, que é o conjunto de regras monásticas seguidas por todos os verdadeiros monges e monjas buddhistas desde a época do Buddha e iniciado por ele mesmo, não apenas entrou no Japão de maneira extremamente precária, mas já no século 9 (Note-se que oficialmente o buddhismo entrou no Japão no século 6, mas apenas a partir do século 7 é que se pode realmente falar de um buddhismo por lá) o Vinaya foi colocado de lado em favor de ordenações baseadas apenas em tomada de preceitos. Ou seja, efetivamente a partir dessa época, “monges” no Japão já não são mais monges como no resto do mundo buddhista, mas sim leigos que passam por uma cerimônia de tomada dos preceitos de bodhisattva. Note-se que esses preceitos de bodhisattvas não são algo somente para monges, mas desde há séculos, desde o princípio na realidade, também eram e são tomados por leigos. O que distingue, dentro do Mahayana, um leigo e um monge é precisamente que os últimos tomam os votos e as regras do Vinaya.

Com a extinção do Vinaya no Japão, os clérigos de lá são leigos investidos de funções sacerdotais, mas jamais monges segundo a totalidade das ordens buddhistas. No Japão isso não é desconhecido, daí usarem preferencialmente termos cujos equivalentes estão próximos do inglês “priest” (sacerdotes) ao invés de “monks” (monge). No buddhismo, desde a época do Buddha, monges são aqueles ordenados segundo o Vinaya, que tomaram os votos e regras completas do Prātimoksa, e que vivem segundo ele. Eles são chamados de bhikkhu ou bhikṣu (em japonês, biku), termo que não é usado para clérigos de escolas japonesas.

O abandono do Vinaya, e portanto do monasticismo tal como entendido por todas as tradições buddhistas, não veio assim por imposição política do imperador (dele só veio a permissão para se casar, mas isso na verdade nem era relevante em termos do monasticismo pois já não havia efetivamente monges no sentido verdadeiro do termo), mas sim de dentro do próprio buddhismo japonês, mais precisamente de Saichō e da emergente escola Tendai.

Saichō desejava criar um “buddhismo puramente mahayana” e para isso precisava diminuir a influência do templo Tōdai-ji em Nara, o único local em que as ordenações segundo o Vinaya eram dadas. Podemos ver claramente que criar um “buddhismo puramente mahayana” estava pleno de motivações políticas, uma vez que sempre o Mahayana em outros países esteve atrelado às ordenações segundo o Vinaya e nunca se viu nenhum interesse em criar um “buddhismo puramente mahayana” por meio da destruição da ordenação monástica. Todos os monges no Mahayana são ordenados segundo o Vinaya, mas no Brasil alguns querem ser monges sem a ordenação no Vinaya ou mesmo sem seguir qualquer de suas regras. Saichō é bem sucedido nesse golpe ao Tōdai-ji ao se aliar ao imperador da época e a partir de então o templo e a escola Tendai que ele funda passam a ser dominantes no cenário japonês, e de onde viriam os fundadores das principais escolas japonesas atuais como o Zen, a Terra Pura e o Nichiren.

Efetivamente assim, escolas como Zen e Jōdo (Terra Pura) já nascem num período desprovido de linhagens do Vinaya (que é o fundamento essencial do monasticismo) e juntamente com o Shingon apenas conferem os Preceitos de Bodhisattva, os quais são meramente expansões dos cinco preceitos comuns a todos os leigos buddhistas. Tais preceitos não têm qualquer semelhança com as regras do Vinaya e para aqueles que conhecem minimamente como funciona o monasticismo nos países buddhistas é motivo de surpresa ver brasileiros pensarem existir alguma semelhança que seja entre tais preceitos e as verdadeiras regras monásticas e se autodenominarem “monges”. E, sim, é uma autodenominação, pois jamais poderiam se denominar como tal, uma vez que não há monges ordenados regularmente no buddhismo japonês. Curiosamente, adeptos do buddhismo japonês no Brasil nem mesmo parecem ser informados que aquelas cerimônias e iniciações pelas quais passam, para serem logo chamados de “monges” aqui no Brasil, nem de longe se aproximam a qualquer coisa ligada ao Vinaya e, portanto, nada têm de semelhante com os verdadeiros monges chineses, tibetanos, vietnamitas, tailandeses ou birmaneses, com os quais se sentem tão próximos em titulação. É um estado de desconhecimento que vai se perpetuando por gerações. Você passa por cerimônias que você não é informado que não são verdadeiramente monásticas, passa a se sentir como sendo “monge” e passa adiante esse desconhecimento para a próxima geração.

O Zen japonês modificou ligeiramente os preceitos de bodhisattva, que tradicionalmente são em número de 10, para 16 preceitos, novamente apenas modificações dos 5 preceitos básicos para os leigos de todas as tradições, com o acréscimo da tomada de refúgio nas Três Joias, como três desses 16. Enquanto que em países mahayanas os preceitos de bodhisattva podem ser tomados tanto por leigos quanto por monges, com a diferença de que os monges além deles tomam também os votos e regras do Vinaya (Prātimokṣa ou Patimokkha), o buddhismo japonês aboliu as cerimônias e os votos do Vinaya, fazendo com que efetivamente não haja monges no buddhismo japonês, mas tão somente leigos que tomam preceitos leigos de bodhisattva e são instruídos nas cerimônias e treinamento para oficializarem práticas e cerimônias, o que chamaríamos de função clerical. Shinran, fundador do Jodoshin, Verdadeira Escola da Terra Pura, no século treze, sendo bastante honesto fez questão de se declarar nem monge nem leigo, e não é sem espanto vermos vários de seus seguidores no Brasil se autodenominarem “monges”, contrariando as próprias palavras de Shinran.

Curiosamente, alguns dizem que agora usam a palavra “monge” por “tradição”, pois estão conscientes de que não o são, já que a palavra em português, vinda do grego, quer dizer “solitário”. Mas não creio que realmente estejam conscientes de que a diferença de fato esteja muito além de simplesmente se casarem (o que pela regra já nem seriam considerados monges), mas que na realidade não participam de modo algum no que desde o tempo do Buddha até os dias de hoje se considera como ser monge no buddhismo, ou seja, tomarem a ordenação no Vinaya, segundo as regras do Prātimokṣa e, ainda mais importante, vivem-na no seu dia a dia. É comum se ir ao Japão para ficar num mosteiro alguns meses, um “treinamento monástico” a la como é feito no buddhismo tailandês com as ordenações temporárias, mas sem a ordenação em si, com a diferença de que o indivíduo depois volta para sua vida comum se considerando monge ao contrário do tailandês que sabe que voltou para a vida comum e jamais pensaria em se autodenominam de monge depois de ter saído do mosteiro. Aliás, apenas para tomar uma afirmação do eminente Atiśa, manter o Prātimokṣa é essencial como base para se tomar os preceitos de bodhisattva no caso dos monges, palavras que os buddhistas brasileiros parecem não dar qualquer importância.

Alguns justificam se autodenominarem de monges simplesmente devido à “tradição”, mas realmente isso nem mesmo é “tradição”, mas tão somente mau hábito. Esse hábito vem de algumas décadas onde japoneses com pouco conhecimento da língua portuguesa ou brasileiros sem conhecimento da tradição monástica buddhista, tomando o sacerdote paramentado à sua frente como alguém diferente de si, chamavam-no de “monge”. Tais sacerdotes, seja por desconhecimento do que realmente um monge é, seja por outros motivos, fizeram muito pouco para corrigir seu público em relação à falsa atribuição.

Note-se que tudo isso que estou dizendo se refere ao ser fidedignamente monge ou não segundo a tradição buddhista, e é verdadeiro em qualquer escola, de qualquer país e qualquer linhagem. Isso em nada se relaciona à qualidade das pessoas envolvidas, em termos de ética ou conhecimento. Alguém pode entrar em alguma escola do buddhismo japonês, receber a ordenação dos preceitos em tal escola, progredir no treinamento e até mesmo se tornar um ótimo professor. Isso é perfeitamente possível e aceitável. Apenas não é correto se autodenominar de “monge”, mesmo que usando a justificativa de fazê-lo por hábito ou “por tradição”. Há monges totalmente tolos e praticantes laicos que são sábios. Monge e sabedoria nunca foram termos que necessariamente seguem juntos. Ou seja, utilizarem seus verdadeiros nomes não é sinal de depreciação. Não se autodenominarem de “monges” não implica dizerem que não sejam qualificados para ensinar o Dharma. Mas se autodenominarem como algo que realmente não são não é apropriado e abre as portas para qualquer um efetivamente se autodenominar de “monge” ou qualquer coisa que se queira, além de criarem imensa confusão por se fazerem passar por monges de verdade segundo o Buddha.

Buddhistas de outros países que estão no buddhismo japonês estão conscientes da inadequação de se autodenominarem “monges”. E é por isso que geralmente se usa outras palavras para designar tais pessoas. “Reverend”, “priests”, “dharma ministers”, “clergy” são termos apropriados para aqueles que passaram por treinamentos em ordens buddhistas japonesas e receberam a devida autorização para efetuar suas atividades sacerdotais. Isso é o que se vê fora do Brasil e faria bem aos buddhistas brasileiros serem mais corretos com seus títulos e atribuições. Mas é aqui no Brasil que se vê esse apego e uso generalizado ao termo “monge/monja” no desejo de se igualarem no grito a algo que no mundo buddhista inteiro se sabe como incorreto. Com mais surpresa ainda, e verdadeiramente tristeza, vejo que se não bastasse a autoatribuição de “monge”, agora se começa a prática de alguns se autodenominarem também de “veneráveis”, algo ainda mais escandaloso, uma vez que o termo claramente sempre foi associados a bhikkhus ou bhikṣus plenamente ordenados segundo o Vinaya. Isso é lamentável.

Buddhismo e monasticismo se adaptam às circunstâncias e às demandas da população, mas isso ocorre circunscrito ao que é correto e dentro das regras presentes no próprio buddhismo e mais particularmente ao Vinaya. Por exemplo, é perfeitamente apropriado imaginar diversas formas diferentes de explicar as quatro nobres verdades ou a doutrina de anatta, utilizando diferentes linguagens ou modos de expressão, mas isso não quer dizer que em nome da impermanência, ou da adaptação a uma era ou cultura diferente, você passe a dizer que doravante são seis nobres verdades ou que podemos dizer que a doutrina de um eu eterno permanente é algo perfeitamente aceitável no buddhismo.

Ao escrever isso, como já tenho feito há anos, estou consciente de que não apenas tenho perdido amigos, como também tenho atraído inimizades. No entanto, há o que é correto e o que não é, e simplesmente não é apropriado fecharmos os olhos ao que claramente é contrário ao ensinamento do Buddha em nome de amizades. É minha esperança, ainda que muito tênue, que o crescente número de “monges” brasileiros possa entender tais questões e sua imensa relevância, e quem sabe um dia possam rever os maus hábitos e “tradições” nas quais a geração passada e presente se prende e possam com propriedade se assumirem como honrados ministros de Dharma, clérigos ou sacerdotes, fazendo o que devem fazer sem precisarem se atribuir nomes que não lhe são devidos. É verdade que no Brasil haverá menos “monges” no nome ao assim fazer. Mas vale a pena aumentar esse número dizendo que se é algo que não é? Não é surpreendente que tradições que se dizem modernas, capazes de “pensarem fora da caixa”, usem como argumento hábitos de poucos décadas nascidos da ignorância popular para justificar o nome que usam? Você realmente precisa se colocar como “monge” e “venerável” para transmitir um dharma honesto, pé no chão, que atinge o coração, bom no início, no meio e no fim?

Outras leituras sobre o tema:

Monges, Sexo, Família, Dinheiro e etc. : https://folhasnocaminho.nalanda.org.br2013/09/monges-sexo-familia-dinheiro-e-etc/

Quando os homens mudam o Vinaya: https://folhasnocaminho.nalanda.org.br2014/05/quando-os-homens-mudam-o-vinaya/

Monges casados: https://folhasnocaminho.nalanda.org.br2006/08/monges-casados/

O Mestre Mandou : https://folhasnocaminho.nalanda.org.br2015/10/o-mestre-mandou/

É essencial frequentar um centro e ter um professor? : https://folhasnocaminho.nalanda.org.br2015/06/e-essencial-frequentar-um-centro-e-ter-um-professor/

monges com a natureza de corvos : https://folhasnocaminho.nalanda.org.br2009/01/monges-com-a-natureza-de-corvos/

Bons Conselhos : https://folhasnocaminho.nalanda.org.br2009/02/bons-conselhos/

2 comentários em “Os Monges… japoneses”

  1. Marcelo Geraldo Godinho

    Impecável na exposição. Vou acrescentar algo que me ocorreu agora… alguém questiona quem são ou não monges, quando se trata de ordenações fundamentadas numa tradição cristã? Não estariam bem explícitas as regras monásticas que cada ordem adota? Ou poderia um monge, por exemplo, franciscano, acumular bens pessoais e ainda assim ser considerado monge?

  2. Mirian Nishikata

    Uau!!! Ricardo, você é realmente um “brâmane” aquele que pensa e nos ajuda a pensar. Obrigada

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