Por ocasião do Fórum Buddhista Internacional que ocorreu na China em outubro de 2024 tive oportunidade de apresentar um artigo sobre a relação dos ensinamentos de Zhiyi (538-597), fundador da escola Tiantai, e as formas de lidar com a ansiedade e o estresse. Abaixo deixo um sumário que foi apresentado durante o Fórum ocorrido em Ningbo.
Pode-se facilmente observar que há um foco crescente no Ocidente na relação entre psicologia e buddhismo. Parece que o Ocidente está percebendo o potencial do antigo conhecimento buddhista sobre a mente para auxiliar na compreensão da psicologia humana. Gostaria de compartilhar aqui algumas reflexões sobre a conexão entre psicologia e buddhismo, com ênfase específica nos ensinamentos de Zhiyi da escola Tiantai do buddhismo chinês e suas implicações para o gerenciamento da ansiedade e do estresse em nosso mundo moderno.
Por 25 séculos, gerações de estudiosos e praticantes buddhistas estudaram a mente e o corpo humano. Fizeram isso não apenas como uma observação externa, mas a partir de uma perspectiva contemplativa interna. Isso levou ao desenvolvimento de um sistema coeso e abrangente que não apenas explica o funcionamento da mente, mas também oferece soluções para suas doenças e sofrimentos.
Zhiyi delineou cinco princípios fundamentais para aliviar o sofrimento. O primeiro é acalmar a mente, que significa reduzir a agitação mental através de técnicas de mindfulness. Em nossas vidas modernas aceleradas, nossas mentes frequentemente estão em estado de turbulência. Ao aprendermos a ser mais conscientes, podemos trazer uma sensação de calma e estabilidade.
O segundo princípio é evitar dificuldades. Isso envolve simplificar habilmente a própria vida para reduzir fontes de estresse. No mundo complexo de hoje, frequentemente somos sobrecarregados por muitas escolhas e responsabilidades. Simplificar nossas vidas pode nos ajudar a focar no que realmente importa e reduzir o estresse desnecessário.
O terceiro princípio é manifestar dhyāna, ou cultivar estados mais profundos de tranquilidade meditativa. A meditação demonstrou ter numerosos benefícios para nossa saúde mental e física. Ela pode nos ajudar a relaxar, reduzir a ansiedade e melhorar nossa concentração.
O quarto princípio é desenvolver a compreensão. Isso significa obter insight sobre a natureza da realidade e nossas experiências. Ao compreender melhor a nós mesmos e o mundo ao nosso redor, podemos tomar decisões mais informadas e viver vidas mais gratificantes.
O quinto princípio é alcançar a realização, progredindo em direção a vários estágios de despertar. Embora isso possa parecer um objetivo elevado, mesmo pequenos passos em direção à autoconsciência e ao crescimento pessoal podem ter um impacto significativo em nosso bem-estar.
Interessantemente, Zhiyi enfatiza o arrependimento como meio de aliviar o sofrimento psicológico. Esta abordagem trata da culpa e da autopercepção negativa, que são frequentemente componentes da ansiedade e do estresse. Reconhecer que existem dois tipos de indivíduos psicologicamente saudáveis – aqueles que não cometeram ações prejudiciais e aqueles que podem se arrepender genuinamente depois de fazê-lo – mostra o poder de assumir responsabilidade por nossas ações e buscar o perdão.
Zhiyi também delineia cuidadosamente as condições ideais para alcançar estados mais profundos de meditação. Isso inclui ter vestimentas apropriadas, uma abordagem consciente em relação à alimentação, uma habitação adequada, aquietar as responsabilidades e aproximar-se de bons amigos espirituais. Embora alguns destes aspectos possam precisar de adaptação para a vida moderna, eles destacam a importância de criar um ambiente favorável para nossa prática.
Ele identifica ainda cinco obstáculos principais para a prática efetiva: desejo por objetos sensoriais, má vontade, letargia e sonolência, agitação e remorso, e dúvida aflitiva. Reconhecer e superar estes obstáculos é crucial tanto para a meditação quanto para a redução do estresse.
Muitos dos ensinamentos de Zhiyi se alinham com abordagens contemporâneas de redução de estresse e ansiedade, como a Redução de Estresse Baseada em Mindfulness (MBSR), Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Esta convergência sugere potencial para integrar a sabedoria antiga com abordagens psicológicas modernas.
No entanto, aplicar estes ensinamentos antigos em um contexto moderno apresenta desafios. Diferenças culturais precisam ser consideradas, assim como o equilíbrio entre aplicações espirituais e seculares. Adaptar práticas intensivas para a vida cotidiana pode ser difícil, e existe um potencial para má interpretação. Também precisamos de instrução qualificada e integração com abordagens médicas e psicológicas modernas.
Em conclusão, os ensinamentos Tiantai de Zhiyi oferecem uma abordagem rica e matizada para compreender e aliviar o sofrimento associado à ansiedade e ao estresse. À medida que continuamos a explorar a intersecção das práticas buddhistas e da psicologia contemporânea, podemos descobrir novas maneiras de integrar estes ensinamentos antigos em abordagens efetivas e culturalmente sensíveis para o bem-estar mental.