Aprenda com o Tempo

Que coincidência acordar dentro do avião, olhar para a tela ao lado e ver que estávamos sobrevoando exatamente onde? O mesmo lugar que mencionei no blog anterior: Gorakhpur! Os nepaleses são seres afortunados por terem a vista da cadeia do Himalaia à sua disposição.

Kathmandu está quente e empoeirada. A cidade cresceu, mas Durbar Square continua a mesma. É interessante caminhar pelas ruas e ver as mesmas construções e lojas que recordava de minhas visitas anteriores, antes dos anos 90 e em 2007. Há algo de “o tempo não passa por aqui”. Ainda assim, Kaal Bhairav, o Senhor do Tempo — uma manifestação de Shiva — está lá, lembrando-nos que o tempo, de fato, passa.

Kaal Bhairav simboliza que a passagem do tempo não pode ser detida. A vida é impermanente e condicionada. Quem é você para querer pará-la ou defini-la? O tempo é um grande mestre: ele dissolve nosso orgulho, nossos apegos e nossa obsessão pelo “eu”. É por isso que Kaal Bhairav também representa a erradicação da arrogância, dos apegos e da ignorância — daí sua face tão feroz.

Nos versos de Shankaracharya:

Bhaanu koti bhasvaram bhavabdhitaarakam param
Neelakantha meepsitaarthadaayakam trilochanam
Kaala-kaala mambujaaksha maakaasha varnasham
Kashi-kapuraadhi naatha Kaalabhairavam bhaje ॥2॥

“Louvo Kaal Bhairav, o governante de Kashi, que brilha como um bilhão de sóis, é o salvador supremo do oceano da existência, tem a garganta azul, concede os desejos, possui três olhos e é o destruidor do tempo.”

Shaula tanka paasha danda paani maadi kaaranam
Shyamakaaya madhi deva maksharam niramjanam
Mrityudarpanaashanam karaaladamshtra mokshanam
Kashi-kapuraadhi naatha Kaalabhairavam bhaje ॥3॥

“Louvo Kaal Bhairav, o governante de Kashi, que segura um tridente, um crânio, um laço e um cajado, tem um corpo escuro, é o primeiro dos deuses, é imortal e puro. Ele destrói o orgulho da morte e liberta com seus dentes afiados.”

Cerca de 80% da população é hindu, com pequenas porcentagens de buddhistas (cerca de 9%), muçulmanos, cristãos e seguidores de tradições nativas. No entanto, apesar do número reduzido, a influência do buddhismo é significativa, além de haver um grande sincretismo entre as práticas do hinduísmo e do buddhismo.