Antes dos anos 90, fiz uma viagem de muitas horas e bastante desconfortável. A juventude, com um corpo ágil e uma coluna saudável, foi de grande ajuda. A jornada começou em Varanasi, a antiga Kasi dos textos buddhistas, e seguiu para Gorakhpur em um ônibus muito antigo. Sentado em um banco velho lá no fundo, espremido entre malas a noite toda, tentei dormir durante as oito horas que levamos para percorrer os 300 km.
Depois, troquei de ônibus rumo à fronteira norte da Índia. Mais seis horas até o vilarejo de Sunauli, onde, ainda de madrugada, tivemos que descer do ônibus e cruzar a fronteira a pé, carregando nossas malas até pisar em solo nepalês. Desnecessário dizer que os ônibus dos anos 90 não tinham ar-condicionado, nem banheiros, e a estrada mal conservada era basicamente de pista única. De tempos em tempos, o ônibus parava para que os mais necessitados pudessem aliviar suas necessidades fisiológicas.
Mas tudo valeu a pena pelo destino final: Lumbini, o lugar que a antiga tradição relata como o jardim onde Siddhattha Gotama nasceu!
O local de Lumbini só foi identificado oficialmente quando o arqueólogo Alois Anton Führer (junto com o governador nepalês Khadga Shumsher Rana) descobriu, no meio da floresta, o Pilar de Asoka, que continha uma inscrição em escrita Brahmi afirmando que o imperador Asoka visitou o local e o reconheceu como o berço do Buddha. As dúvidas remanescentes foram definitivamente extintas quando escavações nas décadas de 1930–1960 revelaram estruturas antigas, incluindo o Templo de Maya Devi e um provável “marcador de nascimento” (uma pedra sob o templo).
E lá estava eu, no meio do nada, diante do Pilar de Asoka e do Templo de Maya Devi, prestando homenagem a um dos quatro lugares sagrados do buddhismo. Mais de 35 anos se passaram, e em breve estarei novamente diante do mesmo Pilar de Asoka e do mesmo Templo de Maya Devi, prestando homenagem a eles em um lugar completamente transformado. O que vou encontrar lá? Ainda não sei, mas será com emoção renovada.