Quando o Buddha fala de nosso problema com o apego e dos problemas que ele nos causa, geralmente interpretamos como se tivéssemos que abandonar tudo e que isso seria a “vida buddhista”. Aqui precisamos fazer uma distinção entre uso e apego. Abandonar o apego não significa que deixemos de usar. Também não significa que deixamos de ver a utilidade e valor de algo. Por ex. eu posso abandonar o apego ao tomar banho. O que isso quer dizer? Que se um dia eu chegar em casa e não tiver água, poderei passar um dia sem tomar e não sofrerei. Ou se não tiver eletricidade poderei tomar banho frio. Apego é o agarrar que gera sofrimento. É o sofrimento, para mim e para o outro, que define e molda o uso, transformando-o em mais alguma coisa para se agarrar e sofrer. Porém, pelo fato de eu não ter mais apego a banho (ou seja, não projeto minhas preferências e gostos pessoais naquilo que uso, tornando gostos e preferências essenciais para minha felicidade), isso não significa que deixarei de usar ou mesmo que não veja o imenso valor dele. O mesmo se aplica a qualquer outra coisa que toquemos com nossos sentidos e mente.
Uma outra área em que o apego nos aprisiona é na formação de hábitos. Beckett em ‘Esperando por Godot” já dizia que ‘habit is a great deadener‘. Hábitos são comportamentos que por algum motivo se tornaram ‘confortáveis’, dos quais derivamos algum prazer deles e, por vezes, tememos fazer diferente, sair da rotina. O hábito tem também o poder de prender e nos impedir de aprender. Ficamos aprisionados no seguir pelos mesmos caminhos, pensar segundo os mesmos parâmetros, ver e viver como fazíamos 20 anos atrás. Não é interessante que ‘aprender’ é ‘prender’ somado do prefixo pali de negação ‘a’? Ou seja, não prender é aprender.
Enfim, mesmo velhos, ainda podemos aprender alguns truques de nossos amigos macacos e depois de tanto tempo aprender como descascar bananas corretamente! O que você soltará hoje? O que aprenderá de novo?
Adorei o comentário de “não prender é aprender”. Como estudante de línguas, penso muito na origem das palavras e essa é mais uma para minha lista! Gostei mesmo.
Igor Barca
http://www.traduz-se.blogspot.com
Realmente… é incrível a forma como nos apegamos aos hábitos!
Porque nunca nos ocorreria abrir uma banana assim?
Temos mesmo tanto a aprender com os animais!
Rá!
Este é o tipo de coisa que você vê uma vez e nunca, nunca mais esquece. Creio que amanhã já estarei descascando bananas como um macaco.
É um grande prazer ler o teu blogue.
srrsr ótimo!!
Maya
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