É a prisão dos ciclos repetidos, instigando os venenos da violência, descaso, mentira. Com base em palavras duras e informações falsas, plantadas ou fantasiadas, os ânimos alteram-se e os longos anos na construção parecem ser esquecidos. Nas palavras de um amigo: “No Buddhismo, a visão correta é o mais importante e só pode ser atingida por meios hábeis ou Upaya Kusala. Será preciso essa visão correta se quisermos entender o sofrimento, suas causas, como ele cessa e os modos como a cessação do sofrimento pode ser conquistada“.
Nessa semana, mais um capítulo triste dessa saga: 400 pessoas feridas, dois mortos. Mudam-se os personagens, mas as mesmas estórias se repetem. Os personagens são diferentes daqueles do massacre de 1976 na Universidade Thammasat. Mas é um dejavú, o país parou novamente. Dois anos atrás, um golpe retirou do poder um político extremamente corrupto, mas querido pelo povo. Novas eleições vieram mais tarde, e um novo partido formado dos restos dos aliados de Thaksin Shinawatra volta ao poder. E novamente a crise que afeta vários setores da Thailândia. Durante toda minha estadia dessa vez na Thailândia houve piquetes, manifestações, greves. Deve-se acreditar que a polícia atirou nos manifestantes ou não? Os políticos são honestos ou tem outros interesses? O povo tem razão em apoiar Thaksin e seus bonecos no poder, ou é manipulado como afirmam os intelectuais, universitários, etc.? A população mais pobre apóia um lado por ver as vantagens que recebeu, mas do outro lado a Aliança do Povo pela Democracia (PAD) questiona os fundamentos éticos do governo. Nessa viagem à Thailândia, um motorista de táxi me dizia sobre o quanto todos gostavam de Thaksin. Ele ajudava o povo, ajudou seus filhos a cursar a faculdade, era simpático com todos. Intelectuais, grupos de conscientização social, agências internacionais entretanto classificam-no como um claro violador dos direitos humanos.
O que acontece quando isso ocorre em uma nação? Como evitar o choque de opiniões que se arrasta por quatro meses nas ruas de todo o país? Sanitsuda Ekachai diz que o fato de não haver tanta repressão nem tantas mortes como em 1976, é um sinal positivo. É sinal de uma sociedade mais livre. “É permanecendo positivos e firmes em nossa crença numa mudança não-violenta o único modo de evitarmos ser engolfados em uma situação política aparentemente sem esperança“. Nas palavras de Wanida Tantiwittayapitak, uma atuante líder do movimento social thailandês: “No final, o bem triunfará sobre o mal e a verdade sobre a falsidade. Apenas temos que ser pacientes o suficiente“.
Sulak Sivaraksa, que mencionei ter tido a alegria de reencontrar nessa última viagem, ao escrever num artigo recente sobre a crise atual, diz que “o Buddha nos aconselha que a paciência é o mais importante elemento para a prática“. Sem dúvida, no Ovadapatimokkha Gatha que recitamos regularmente, está escrito: “Khanti paramam tapo titikkha – a paciência queima as impurezas de forma suprema“.
…a paciência para encontrar o momento certo para atuar da maneira certa…
…e a ignorância humana (no sentido Dhammico) é a mesma, no micro e no macro. Vemos que os dois primeiros parágrafos podem ser transpostos sem dificuldade para as mais diversas situações de conflito do nosso cotidiano que são, invariavelmente, criadas, aumentadas e prolongadas por conta da nossa estupidez…
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