Pular para o conteúdo

Tibete em Minas

Repassando:

Tibete em Minas:

fotos & aquarelas


No outono de 2003, a artista plástica e fotógrafa belo-horizontina Mariângela Chiari esteve no Tibete, mais especificamente em Lhasa, a capital e cidade-sagrada do Budismo Tibetano. Das centenas de fotografias então produzidas, foram selecionadas cerca de trinta que irão compor – ao lado de 12 aquarelas feitas pela artista – um grande mosaico na exposição “Tibete – Caminhos da Compaixão”. Patrocinada pela Energisa/Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho, a mostra será inaugurada no próximo dia 08 de agosto no Museu Chácara Dona Catarina na cidade de Cataguases, Minas Gerais, e poderá ser visitada até meados do mês de setembro. A data não foi escolhida ao acaso. É também o dia da abertura das Olimpíadas de Beijing – e surge como uma espécie de desagravo pelos acontecimentos referentes à relação China-Tibete.

Segundo Mariângela Chiari, o que mais a impressionou na viagem – fora a profusão de detalhes arquitetônicos que registrou em Lhasa – foi mesmo a dignidade do povo tibetano. E o interior dos mosteiros: “A gente chega lá e dá uma sensação assim de um contato com divindades. Ao entrar, ficarmos embevecidos pelo ambiente, sentimos uma coisa muito próxima de uma poderosa sensação de paz, de grande paz. Especialmente as fotos que fiz dentro do Potala Palace, tudo com aquele vermelho bem fechado, com aquela luzinha vindo só lá de cima do teto. Aquilo é muito emocionante. Mexe com qualquer pessoa, independente da crença, independente de qualquer coisa que se pense, que se julgue em relação a budismo ou em relação a qualquer outra coisa. É muito comovente. Eu falo que o Tibete mexeu comigo assim lá na minha entranha. Tudo muito relacionado com religiosidade com a fé, com a pureza do povo”.

Reproduzimos a seguir o texto de apresentação da mostra.

TIBETE

Caminhos da Compaixão


“A luz é às vezes muito dura, as pessoas sempre muito suaves”. Ficou assim o registro do Tibete na câmera-memória da fotógrafa belo-horizontina Mariângela Chiari – revelações de uma viagem a Lhasa, capital e cidade-sagrada, no outono de 2003. O sol a pino, a claridade contrastada pela altitude, e a serena atitude do povo ali iluminado. “Eles são totalmente puros. A gente fica encantada, emocionada com tudo, tomada pela intensa religiosidade, por seu despojamento. Fui contaminada pela experiência”.

A fotógrafa captou também essa pureza no olhar dos tibetanos: “Eles sorriam com os olhos, um sorriso puro e tímido. E se escondiam quando eu apontava a câmera em sua direção. Uma inocência e uma timidez comoventes”. Mesmo à luz do sol, Mariângela usava um pequeno flash de cobertura, para clarear os rostos face ao fundo claro. Os tibetanos viravam-se de lado – e só depois ela soube que eles têm medo do flash, pois uma crença budista diz que a alma das pessoas vai embora com a fotografia.

Também pela arquitetura prendeu-se o olhar da fotógrafa – pelo interior de mosteiros, dos templos, o Jokhang ou o Norbulingka Palace, ou de edificações monumentais como o Potala Palace, antiga residência do Dalai Lama e hoje o lugar mais sagrado para os budistas tibetanos. Onde o tempo parou, como numa fotografia, parece que tudo se move nas longas caminhadas para a purificação. E volta a se fixar no vermelho fechado, nas meditações, nos mantras caligrafados nas tangkas que descem dos tetos dos monastérios.

Olhar que se volta ainda para as bandeirinhas de oração tradicionais do Tibete, a ostentarem as cores simbólicas dos elementos: o azul do céu e do espaço; o branco do ar e do vento; o vermelho do fogo; o verde da água; o amarelo da terra. E ainda por portas e janelas plenas de detalhes, uma profusão de ornamentos por onde se detinha a “câmera fechada” de Mariângela – enquadramentos revistos também sob a forma de aquarelas, arte já praticada anteriormente, e agora por ela retomada com a devida leveza, o frescor das aguadas, a delicadeza de suas tonalidades.

“Sou um simples monge”, diz o atual Dalai Lama. “Tudo o que sei são a escritura e as palavras de Buda: ´Os seres tremem diante do perigo e da morte. A vida é preciosa para todos. Ao perceber isso, o homem não mata nem causa a morte´. Palavras que estão enraizadas no coração de todo tibetano. Por isso somos um povo pacífico que rejeita a violência por princípio. Isso é a nossa grande força e não nossa fraqueza”. Mestre Dugpa Rinpoche, que acompanhou o Dalai em 1979, quando de sua fuga do Tibete, lembra em seus preceitos: “A compaixão é uma das formas silenciosas da felicidade. Em certas circunstâncias, a vida entrega-se a nós por surpresa, para nos maravilhar”.

De fato, o importante é competir – diz o ditado, às vezes desdito pelos fatos. Voltam-se hoje para a China os olhos do mundo. E hoje ali é aqui hoje mesmo: 08.08.2008, abertura oficial das Olimpíadas de Beijing. Abertura também desta exposição que contempla o Tibete com um cúmplice olhar face à dignidade e perseverança dessa gente há tanto tempo sob o jugo chinês. Um olhar de compaixão, mas também de desagravo, é o que observamos no “olhar” dessas fotografias. No “teto do mundo” – filtrado pela luz do Tibete, a prismar cores em permanente vibração – a sensível câmera de Mariângela Chiari flagrou os tibetanos no pleno exercício espiritual de uma simplicidade que comove.

Ronaldo Werneck

Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho


Marcações:

2 comentários em “Tibete em Minas”

Não é possível comentar.