Podemos pensar: ‘Por que vou enfrentar o trânsito e a garoa para ir num tal evento?’ ‘Que importância teria a minha presença para isso?’; ‘O que um manifesto público terá de efeito para um país tão longe do meu?’. São questionamentos que nos fazem ficar em casa ou preferir ir ao cinema. É fácil esquecer que a doutrina central buddhista é a interdependência. Que cada gesto, por menor que seja, repercute indefinidamente em nossa corrente mental e na de todos os seres. Sair do isolamento de nossas buscas individuais é algo difícil. Sair do exclusivismo de nossas escolas e objetivos, e pensar no bem maior do Dharma é uma consciência que se ganha com o tempo. Requer maturidade espiritual. À medida que algumas pessoas, aqui e ali, comecem a ver que a prática do Buddhismo é mais que apenas olhar para o próprio umbigo e que é com pequenas iniciativas como essa (mas grandes na motivação e na intenção) que o Dharma de Buddha é construído nessa terra verde e amarela, é que veremos, quem sabe um dia, o Dharma realmente germinar entre nós. Como o dep. Gabeira terminou seu discurso (não literalmente): ‘Somos poucos aqui, mas somos muito naquilo representamos’. Para quem foi, nosso agradecimento e o parabéns por saber semear.
Occoreu ontem à noite o evento do CBB – Colegiado Buddhista Brasileiro – no Bushinji de São Paulo. No geral, apreciei o evento, considerando que foi a primeira atividade pública do CBB (além de todas as outras atividades que ocorrem mais ‘não-publicamente’), considerando a chuva e o trânsito de São Paulo. Creio que contamos com cerca de 50 pessoas no total. Alguns, muito justamente, se surpreenderam pelo número pequeno de pessoas num evento com tamanha importância moral para o Buddhismo. Infelizmente essa é a conhecida realidade do Buddhismo no Brasil. Quando o Dalai Lama visita, milhares de pessoas vêm para vê-lo, mas quando um evento em nome da justiça e da não-violência é organizado, poucos aparecem. Isso nos faz questionar, é claro, sobre a motivação dos milhares que estão prontos para ver um ícone (será que foram lá para ver o verdadeiro Dalai Lama ou para ver uma ‘estrela’?). Mas é assim mesmo, realidades da situação brasileira que em quase cem anos não consegue ainda articular bem o engajamento inter-ser, preferindo a prática somente individual com dúbias motivações.
Feliz porque alguns grupos e pessoas estiveram presentes e outros porque tiveram a iniciativa de enviar representantes para este evento que, moralmente, foi tão significativo. O Rev. Gensho, representando a Comunidade Zen de Florianópolis esteve lá presente, lendo o Manifesto do CBB em favor da justiça e da não-violência, e apresentando os convidados. O Rev. Joaquim Monteiro, do Honpa Honganji esteve com dois de seus alunos, e proferiu palavras de engajamento e importância da Sangha no Brasil. O Prof. de Dharma Ricardo Sasaki, mais dois membros da Comunidade Buddhista Nalanda, encerrou o evento com uma breve explicação sobre as Três Jóias e dirigindo um cântico em pali. Rev. Leninha e Ana Lúcia estiveram pelo Higashi Honganji. Pelo menos três pessoas foram enviadas pela Rev. Coen da Comunidade Zendo do Brasil para representá-la e a Denise representou o CEBB em nome do Lama Santem. O Dep. Fernando Gabeira fez um significativo discurso em favor dos monges da Birmânia, bem como um diácono da Igreja Católica e mais três membros do Partido Verde (que marcaram sua presença em prol da não-violência). O secretário Eduardo Jorge também esteve presente, falando de Gandhi e representando o prefeito paulista Gilberto Kassab. E um representante espiritualista falou que deixou de ir à sua prática espiritual para se solidarizar conosco. Os monges zen do Bushinji estiveram admiravelmente presentes, abrindo o templo, oficiando a singela cerimônia e recebendo os convidados.
Ótimo ver que o evento aconteceu! Ótimos também os comentários do Professor Ricardo Sasaki. Fico feliz que estejamos nos unindo para fazer algo, nem que seja somente para nos informar.
abraços a todos…
Olá Sasaki-san
Agora já um pouco mais liberta das emoções desse evento,dá para apontar algumas questões..rs.Tenho algumas divergencias com as impressões/analises do autor do link (no seu texto).Enqto ele vê o “copo meio vazio”, eu de cá, confesso que consigo visualizar o “copo meio cheio”, e quiça a médio/longo prazo transbordando…rs.
As coisas mais consistentes começam dessa forma,com poucos…, mais firmes, eu ficaria muito expantada e assustada se nesse momento encontrasse uma ” multidão” de “ditos buditas” na porta do Busshinji querendo participar,juro que daria meia volta e entraria não…rs. O próprio Buda Sakya não começou pregando para os cinco ascetas? E só cinco diriam alguns?? Se ele ( o Buda) tivesse desqualificado os “cinco” que estavam ali para ouvi-lo, pois é…
No frigir dos ovos, vejo e sinto todos nossos esforços, como gdes sementes plantadas para o Budismo em “Brazil Varonil”. E ouso apostar
que essas sementes darão ” sombra, frutos e guarida” para os viajantes que se poem na jornada.
Aponto aqui algo que penso ser de
fato relevante; há 2 ou 3 meses o CBB era apenas uma Instituição Budista no papel, meio ficticia até
eu diria, e em apenas 1 mês praticamente, via comunicação eletronica, conseguimos dar visibilidade a essa instituição, primeiro via ” Caminhadas pela Paz na Birmânia”, em Sampa, Floripa e Porto Alegre.E agora com esse evento em que mais uma vez pudemos dar voz e expressão de nossa solidaridade aos irmãos de Burma.
Ademais alguém tem que sair da ” zona de conforto” e fazer o trabalho pesado, do contrário ficaremos sempre em “discursos bonitos” como compaixão, bodhisattvas e afins, ou retóricas gastas sem alcançe real.
abs fraternos,
ana opss Shaku ni Sei-Ti…rs.
Com a motivação correta, e as sementes apropriadas. Então com o tempo estarão os brotos presentes, as arvores, os frutos ou flores as ervas.Assim que se constroi o nirvana ou nibbana ou simplesmente o estado desperto. Apreciando o simples semear, molhar a terra, sentir o sol, cuidar de cada dia inter-ser.
Linda iniciativa. Emocionante. Parabéns!
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